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Antes do Vesúvio

  • Conto erótico de hetero (+18)

  • Publicado em: 05/06/16
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  • Autoria: CrisVenturini
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PARTE I


Uma das primeiras coisas que percebi em minhas viagens no tempo, foi que nos séculos passados as pessoas não tinham muitos espelhos à disposição. Eu podia me preparava para todo tipo de coisa antes de fazer uma viagem ao passado: configurava o idioma, a roupa adequada, me inteirava da personalidade que iria assumir, dos costumes, hábitos e leis de cada época. Mas não bastava para que deixasse de me surpreender a cada vez que me deparava com a ausência de espelhos, de tão mal-acostumada que meu século do futuro me tornou. A depender da época, espelhos eram tão caros quanto as mais as mais renomadas pinturas e obras de arte.


Estranho pensar que teria que gastar uma fortuna para ver meu próprio reflexo. Por isso que eu digo, as pessoas mais narcisistas da história da humanidade fora as princesas ricas que podiam arcar com tais custos. Assim, em minhas viagens ao passado, para contornar o problema, eu na maioria das vezes tinha que aprimorar meu próprio tato e minha própria percepção ao me arrumar para cada dia; tinha que confiar mais do que nunca nas opiniões de minhas amigas, tanto as que às vezes viajam no tempo comigo quanto as que eu conhecia na própria viagem.


Mas, agora é a hora de assumir, foi na viagem que fiz ao Império Romano que pela primeira vez eu aprendi a olhar meu reflexo nos olhos de outra pessoa. Nessa viagem, mais do que nunca, meu reflexo foi oferecido e expandido pelos olhos de certo alguém que conheci em Pompeia - uma das cidades mais celebradas do antigo Império.


Na ocasião, saí­ da máquina do tempo já a caráter, vestida com sandálias e com uma túnica de tecido fino, mas que ia até as canelas e não me deixava lá muito confortável perante o calor do mediterrâneo. Eu assumira a personalidade de uma ajudante na mansão de um aristocrata local, e, com as coordenadas da cidade memorizadas, era para lá que eu seguia.


Não, não havia escolhido a cidade de Pompeia por acaso. Ela era uma cidade que tinha um ritmo de vida festivo e liberal, reconhecidamente à frente do tempo para o qual eu fui, o século I D.C. Os romanos de Pompeia viviam o auge da Pax Romana, e como consequência se preocupavam mais com o lado prazeroso da vida do que com a destruição das guerras. Suas ruas de pedra eram bem cuidadas e bem asfaltadas; conforme eu andava por elas, via pessoas de todos os cantos do mundo conhecido de então, tanto do norte da África como da Ásia, o que fazia de Pompéia uma cidade bem miscigenada, e, ainda que a aparência europeia não fosse um real problema para mim, podia ter a segurança que meus comportamentos e tiques, tí­picos de uma garota do século 22, teriam mais chances de passarem despercebidos em Pompeia do que em qualquer outra cidade Imperial. Ainda que - estranho pensar nisso! - todas aquelas pessoas que eu via, rostos jovens e velhos, corpos corcundas e musculosos, todas elas eram cerca de, se não estiver enganada em meus cálculos...dois mil e trinta anos mais velhos do que eu.


O tal do aristocrata em cuja casa eu iria trabalhar se chamava Júlio Erandis, e tudo mais que eu sabia sobre ele era que, além de muito dinheiro e uma mansão, ele tinha influência na cidade e aspiração para entrar no meio polí­tico. Com isso na cabeça, tratamento especial não era exatamente o que eu esperava, pois sem dúvidas teria bastante trabalho com as exigências da casa. Eu chegaria à cidade sob a forma de uma escriba, enviada de Roma para auxiliar Júlio Erandis tanto com a organização de sua agenda polí­tica tanto com sua correspondência particular. Mas o trabalho era o de menos, não tinha a menor preocupação quanto às funções que realizaria; afinal eu confiava que, com minha educação do século 22, poderia realizar qualquer tarefa intelectual de olhos vendados.


A cidade fervilhando enquanto eu andava por suas ruas estreitas, carruagens trombando para lá e para cá, comerciantes gritando em frente às suas tendas, e um grande número mulheres lavando roupas nas fontes públicas bem no centro da cidade. Fui até elas, tomei um pouco da água do bebedouro e perguntei por direções.


- A casa do Senhor Júlio Erandis? - respondeu uma das lavadeiras - Deve ser nova aqui para não saber...pois sim, parece nova mesmo. A casa dele é aquela ali, de três andares, você pode ver melhor logo atrás da fonte.


Eu agradeci e segui em frente. Seria impossí­vel me enganar, porque a casa indicada destoava demais em relação a todas as outras pelas quais eu havia passado. Acima dela, somente a figura do Monte Vesúvio, sobressaí­a-se no horizonte. Mas para ele eu não queria olhar muito. O calor seco batia forte pelo caminho, porém a impressão que tive era de que água não se faltava em Pompeia. Além das fontes, vi também uma entrada para os banhos públicos, que ficaram tão famosos durante o império. Eles eram uma espécie de piscina onde os romanos se encontravam diariamente para conversar e refrescar o corpo. Porém, eu me esquecia se eu, uma mulher solteira naquela época, teria a entrada permitida em algum deles. Sem tempo para conferir, passei reto pela entrada, uma mureta repleta de pichações que dobrava para uma casa menor, por onde um cheiro de umidade já podia ser sentido.

Fosse como fosse, eu tinha esperanças de que acomodações melhores me esperariam dentro da mansão de pedra em frente a qual eu agora estava. Bati na porta e prontamente fui atendida.

Uma mulher, ainda no lado jovem de seus trinta anos de idade entreabriu a porta principal. Ela tinha lábios brilhantes e um cabelo todo encaracolado, sob um corte que não deve ter custado apenas quinze minutos sem espelho. E também pelo rosto belo e impecável, podia julgar que ela certamente deveria ser a matrona da casa; mas isso era impossí­vel: ela estava usando o mesmo tipo de túnica simples que eu.


-Você deve ser a Marcella - disse para mim.

-Sim senhora - respondi. - Muito prazer, fui contratada...hoje é o meu primeiro dia.

-Claro, claro, meu nome é Katarina, sou a governanta daqui. Vamos entrando.


Era uma porta-dupla, abriu-se para a frente nos dois lados e a mansão se apresentou para mim. A governanta me guiou pelo que era um hall de entrada escuro e em seguida passamos para a sala de estar. Logo na lateral direita havia um jardim redondo que fazia circunferência rente ao perí­metro da mansão, dando às quatro partes dela uma luz completamente natural. Uma arquitetura belí­ssima, daquelas que não se projetam mais em meu século. Continuei acompanhando Katarina pelos corredores, com sorriso bobo no rosto.


-Agora - disse ela para mim quando tomamos a direita para um novo salão - vou apresentar você para o Senhorio, mas bem brevemente; ele está recebendo convidados.


E assim ela o fez. O meu patrão, o aristocrata chamado Júlio Erandis era um tanto velho e não disse nada diretamente para mim. Eu também não disse nada, apenas fiz o que achei que tradicionalmente era feito em tais situações e mantive uma pose de reverência para o dono da casa, ouvia Katarina se alongando na conversa e detalhando a ele o que seria servido no jantar.


-Mais pessoas virão - eu escutava ele dizendo. - Para comemorar! Katarina, eu serei o novo prefeito de Pompeia, por isso iremos comemorar, porque tenho praticamente todos os votos necessários...! Vamos precisar de vinho, sim, vinho e um pouco mais de comida, para fazermos uma festa ainda hoje! Porque, garanto a você, só não serei o prefeito se o Império acabar de hoje até a próxima semana.


Eu balancei a cabeça quando percebi a ironia daquelas palavras, mas, sorte a minha, acho que passei despercebida. Mas logo me recompus, lembrando a mim mesma das regras que tinha de seguir para cada viagem no tempo.


Porém, ainda em reverência, podia ver de sobrolho os demais visitantes que completavam o salão. Homens de sandálias, todos mais ou da mesma idade que Júlio Erandis. Não ousava levantar a cabeça, não queria dar motivos para nenhuma suspeita a meu respeito; porém, mesmo dentro de meu pequeno campo de visão, pude ver um dos convidados se aproximando. Este usava botas, e, por sua perna mais em forma, soube que era claramente mais jovem que os demais.


-Olá! - ele disse sem rodeios, logo chamando ando a atenção de Katarina e de Júlio. Mas não me pareceu um cumprimento de verdade; havia um quê de ironia em sua voz. - Engraçada essa menina nova, Kath. Ela é uma escrava?

-Não - Katarina respondeu. - É uma mulher livre. Foi recomendada diretamente de Roma em razão de suas habilitadas.

-Háhá! Que habilidades, posso saber?

-Ela é uma Escriba que-

-Estou brincando Kath, só estou brincando, não precisa me explicar nada. Não sou nenhum senhorio afinal de contas, sou? É que estava olhando vocês de longe, ali do balcão, e fiquei curioso com os trejeitos dessa menina. Bem que achei que não podia ser escrava. Vejam - ele acrescentou, levando dois dedos para baixo do meu queixo. Com eles ele ergueu o meu rosto, em um movimento firme e sutil. - Ela não faz uma reverência direito, se vocês prestarem bastante atenção. Pois escrava essa menina não é! Mas espero que ela seja uma boa escriba, por mais que eu mesmo não faça ideia do que uma escriba faz. Bom meu caro Júlio, já estou de saí­da, para você sabe o quê. Até mais tarde!

Eu deixei de fazer a reverência enquanto ele falava para espiar seu rosto, e nele vi um homem feito, com barba fechada e de olhos verdes. Dentes surpreendentemente brancos, que batiam com força conforme ele terminava cada frase. Um efeito estranho, pois as batidas davam ao seu rosto certa aparência raivosa, apesar de seu tom de voz não deixar dúvidas de que estivesse de bom humor. Vi ele se retirando, as pernas andando a passos largos, uma bem separada da outra, como se estivesse montado em um cavalo imaginário.


Nesse momento o senhor Júlio deitou os olhos sobre mim, e, com inesperada amabilidade me dirigiu a palavra

-Ora, ora. Ele não te conhece, mas você certamente deve conhecê-lo.

Eu, ainda que agora suspirando aliviada por ter sido incluí­da na conversa, não soube como responder.

-Eu não, infelizmente não senhor...

-Ora! Não o conhece? Veio diretamente de Roma, mas não conhece ele. Bem que eu sempre disse que aquela cidade está populada demais.

-Sim senhor - disse. - Cada dia mais cheia.

-Bom, Katarina - tornou Júlio Erandis - Leve ela para conhecer o resto da casa, e depois para ajudar você no que puder. Esperarei vocês no jantar.


O senhorio se foi e fiquei plantada no chão, olhando dele para o corredor por onde aquele....estranho homem havia saí­do.


Katarina me olhava com as sobrancelhas curvadas. - Que há com você? - perguntou. - Primeiro a reverência estranha, depois essa falta de conhecimento... mal parece que você veio de Roma.

Estava prestes a gaguejar algo em resposta, mas Katarina não pareceu realmente se importar. Ela me guiou pela continuação do corredor, e eu senti que não haveria problema em saciar minha curiosidade.


-Mas por gentileza - comecei, escolhendo bem as palavras. - Você pode me dizer, então... quem é aquele homem que conversou com nós?


Katarina franziu o cenho, depois abriu um sorriso inesperado para me responder.

-Bom, para a sua informação, ele é apenas um dos melhores, se não o melhor Gladiador de todo o Império Romano.

-Gladiador? - repeti para ela. Depois, para mim mesma: Gladiador? Com aquela jovialidade e o jeito de andar esquisito? Não me parecia ser possí­vel; ele não fazia a figura que eu via nos filmes do alto do meu século XXII. Verdade que tinha certa atitude, até onde eu pude perceber. Mas não tinha toda aquela força, toda aquela corpulência que a gente espera quando pensa em um homem digladiando-se dentro de uma arena, em duelos de vida ou morte contra outros homens e animais selvagens.

-O nome dele é Tetraí­des - completou Katarina. - Veio celebrar o feriado e a comemoração do senhor Júlio conosco. E celebrar a si mesmo, por que não? Afinal ele venceu suas últimas batalhas do ano.

-Tetraí­des...- repeti ela mais uma vez. Sim, esse nome me era familiar, me lembro de minha amiga Heloí­sa mencionando-o em uma de nossos encontros que antecedia as viagens no tempo. Devia ser de fato um grande Gladiador, caso contrário não seria lembrado até os meus tempos. Mas, ainda assim...ainda assim não era o monstro de músculos pelo qual eu havia o imaginado nesses encontros. Tinha o corpo saudável, é, um corpo saudável e bonito, era um homem-homem, se assim posso dizer.


PARTE II


Conheci a casa andar por andar, cômodo por cômodo. As paredes da mansão eram predominantemente brancas, exceto as que eram decoradas com afrescos nas alas principais. Katarina me orientou a respeito dos hábitos do senhor Júlio, assim como os de sua esposa, que estava fora da cidade naquele feriado. Eles tinham uma filha, Katarina me disse, que já estava casada e também fora da cidade. Os demais empregados, não pude contar quantos eram, mas todos foram bem receptivos comigo. Havia uma agitação ní­tida entre eles, tendo em vista a festa que teria que ser preparada em tão pouco tempo. Eu, é claro, nunca podia saber o tempo em exato, pois não tinha mais um relógio no pulso. A luminosidade dos jardins e das janelas, porém, já perdia a força, e, ao seguir Katarina, vi ela erguendo lamparinas em suportes de parede.


Continuei acompanhando-a, ajudando em não apenas uma, mas em toda a sorte de tarefas com que nos deparávamos. Entrávamos e saí­amos fazendo ajustes na decoração do jardim, do lado de fora da casa e da sala. Katarina vira e mexe interrompendo-se para dar ordens na cozinha e levar recados até Júlio.


Até que, devido a um "pedido importantí­ssimo e inadiável de Julio", fomos ao centro da cidade, para encomendar ainda mais vinho e ainda mais pão. Até então, eu não tinha tocado em nenhum livro, redigido nenhuma carta. Estava mais como uma ajudante de Katarina do que como uma Escriba, porém, em contrapartida, isso não me incomodava; permanecia tão entusiasmada com aquela realidade que vivenciava, com a simplicidade e elegância da época, que Katarina às vezes precisava me chamar a atenção


- Preste atenção, Marcella - ela dizia. - Daqui a pouco você terá que fazer essas coisas sozinha.

À caminho da loja, as pessoas de pompeia continuavam confraternizando. Crianças aproveitavam os últimos raios de sol brincando próximas às fontes, espirrando água para lá e para cá. Katarina fazia cálculos consigo mesma sobre a quantidade de vinho certa a ser comprada, quando eu a interrompi.

-Escute, Katarina, - disse eu, sem mais poder ignorar certa curiosidade - você poderia me dizer como é....bem, sei como é em Roma, por isso gostaria de saber como é aqui... estou falando dos banhos públicos, qualquer pessoa pode entrar neles?

-Você quer saber se você pode entrar em um dos banhos?

-É - respondi. - Gostaria de saber, sim.

-Poder, você pode - disse Katarina. - Qualquer pessoa livre pode entrar no banho, homens e mulheres. Mas não recomendo, acho um lugar vulgar demais. No caminho de volta, vou lhe mostrar por quê.


Katarina pagou o comerciante com apenas três moedas e com a ordem para que o carregamento fosse entregue até a hora do jantar. Depois, seguimos de volta, mas no caminho dobrando para o quarteirão onde havia visto um dos banhos públicos.


-Não há muita gente aqui agora - Katarina disse, depois de termos passado por uma das entradas - Mas olhe - ela acrescentou, apontando seu indicador para uma parede que fazia uma curva interna.

E nessa parede, assim como nas outras que seguiam até a escadaria para o banho, havia muitos grafites, grafites e esboços de desenho de todos os tipos, porém quase todos voltados a praticamente um tema central: o fulato, palavra em latim para transa. Sim, pois era possí­vel ver uma vastidão de desenhos, garranchos e referências a sexo, desde as representações caprichadas e bem-feitas, até as mais infantis.

-As pessoas gostam de vir aqui para conversar sobre vulgaridades - Katarina disse. - Eu mesma vou a banhos públicos em Roma, mas não aqui. Além disso - acrescentou Katarina -, o senhorio tem seu próprio banho, que costuma disponibilizar para os convidados. Depois de um tempo, quem sabe para você também.


Katarina continuou expressando seu desgosto pelo lugar, mas não prestei atenção nela por muito tempo. Pois estava de queixo caí­do ao ver pessoalmente a tamanha liberdade já tomada pela Pompeia daquele tempo. A quantidade de figuras e frases obscenas eram de fato muito maiores do que as que foram documentadas em museus e livros históricos. E particularmente, a bem da verdade, eu não sabia se desgostava ou não daquilo. Encarava tudo, no máximo, com a visão imparcial do meu lado historiador, o mesmo que acabava de ser despertado.


Até que, em um dos cantos da parede leste do banho, através de uma caligrafia bonita, com traços não muito fortes, quase apagados, podia ser lido os seguintes dizeres:

Gladiador Tetraí­des. Tem um filho bastardo. Você pode amar. Mas não pode confiar.

-Estou dizendo, Marcella - Katarina continuava falando, ela revelava-se como uma máquina de falar, no entanto minha cabeça não mais processava quaisquer palavras dela. - Não sei como as pessoas aturam esse tipo de lugar.

Gladiador Tetraí­des, repeti para mim mesma. Ao menos era inegável que era um Gladiador de verdade, o mesmo que se eternizou nos livros... Não fosse aquele encontro fortuito na mansão, jamais teria imaginado.

-Tanta falta de vergonha - Katarina dizia.

E eu pensando: será que ele iria voltar a falar comigo no jantar? Pois se falasse, eu dessa vez diria uma coisa de volta a ele. Viajei no tempo com uma personalidade de mulher livre, afinal. Eu acompanhava a governanta, eu era uma das raras mulheres letradas; portanto não precisaria tolerar desaforos, diria a ele que...

-Juro que gosto de banhos, Marcella, mas prefiro esperar para usar o do senhorio. Nesse lugar eu não dou mais um passo.

Sim, se o Tal do Gladiador voltasse, eu não iria me permitir passar vergonha de novo, eu diria a ele....

Mas, quando me dei por mim, Katarina já me puxava pelo braço e estávamos de volta à casa e aos preparativos para a celebração.

Duas horas se passaram (talvez mais, talvez menos, eu ainda não estava habituada com o tempo do céu, de maneira que o tempo sem relógio não era nada mais que um tempo emocional) e a casa ficou toda iluminada por lamparinas e tochas. O clima permanecia abafado, vi as demais empregadas alargando a túnica do corpo, no que me conferiu liberdade para fazer o mesmo, arregaçando as mangas e deixando os braços nus. Katarina não pareceu se importar. Dali a mais um pouco, convidados começaram a entrar e começamos a servi-los.

A celebração teve iní­cio na sala de estar onde, dessa vez, havia mulheres presentes, representando cerca de metade do número de convidados. Nessa época, é claro, não havia caixas de som, de modo que a festa só poderia ser animada com música cantada ao vivo. E uma das convidadas que se encarregava disso, ela tinha uma voz suave, combinando com seu rosto sereno, cabelos esplendorosos que batiam na sua cintura. Enquanto cantava, os homens não desviavam seus olhos dela, batiam palmas e juntavam-se ao canto nos refrãos da música. Katarina servia o vinho, e a cada copo que enchia tomava a liberdade de dar pequenos, mas charmosos passos de dança, possuí­da por um sorriso de orelha a orelha. Bem que pensei em imitá-la, mas queria ainda evitar chamar atenção para mim. Se bem que, concluí­ instantes depois, se a festa continuasse embalando, eu só chamaria atenção se permanecesse quieta.

No entanto, falando em atenção, não demorou muito para que o anfitrião da festa reivindicasse ela para si mesmo. Sem largar seu copo, Júlio Erandis subiu em um banquinho de pedra, uivando e batendo uma palma da mão livre contra a palma da mão que segurava o vinho. Dali fez um discurso sobre como faria jus ao cargo de prefeito de Pompeia, sem deixar de agradecer o apoio dos convidados. Apenas ele falava, dado que a mulher cantante havia deixado de cantar, agora limitando-se a puxar os aplausos a cada fim de frase de Júlio Erandis. A sala ferveu com a falas e aplausos e, ao fim do discurso, notei o vinho fluindo com mais rapidez. E então a festa moveu-se da sala para os corredores e dos corredores para o jardim central. Agora, não apenas a primeira cantora havia voltado a cantar, como quase todas as outras mulheres a acompanhavam nos vocais. Vi casais se formando, alguns convidados ficando para trás em um cômodo ou outro, embora nem de longe a festa parecesse esvaziar.

Pelo contrário, certo era que mais pessoas chegavam. Tanto que eu vi - como deixar de ver? - cortando o jardim para chegar ao salão, o Gladiador da casa, Tetraí­des. E digo Gladiador porque ele realmente estava vestido com sua armadura de luta, traje que destoava de todos os demais. Plantada no corredor, vi ele cumprimentando os convidados com os quais cruzava e virei o rosto para o lado antes que ele pudesse me notar.

Coisa surpreendente...dessa vez vendo-o, vestido naquele traje, era impossí­vel não admitir que de fato tinha o porte que eu imaginava em um gladiador. Porque, em meio a tanta bagunça, uma pessoa desavisada podia entender que ele era apenas um convidado excessivamente alegre e excessivamente fantasiado. Porém, não havia nada de fingido nele, e com esse até pensamento eu me belisquei, uma e outra vez, no entanto nada mudou, era a pura realidade, eu estava vendo, ao vivo, um gladiador de verdade, diretamente do Império Romano...

-Marcella! - Ouvi o chamado. Era Katarina, vindo à minha direção com um ar um tanto quanto insatisfeito - O que você está fazendo parada no corredor? A festa está para lá, vamos.

-Desculpe - respondi. - Estava no jardim agora há pouco, mas é que fiquei enjoada. Já estou voltando para o jardim.

-Jardim? - repetiu Katarina. - Nossa, você não sabe? A festa não está mais no jardim, ela está indo para o andar de cima. Venha comigo.

Katarina me puxou pelo braço corredor adentro e seguimos pela escada. Seu cabelo todo encaracolado ia se despenteando conforma ela dava passos apressados, no que ela não parecia se importar. Já nos degraus da escada, era possí­vel ouvir exclamações dos convidados; reconheci a voz da cantora lá em cima, a de Júlio Erandis também. Virava o pescoço para trás enquanto subia, porém, o movimento do térreo parecia se encerrar com Katarina e eu - nenhum outro convidado nos seguia.

Ali no terceiro andar, os rastros da festa eram mais evidentes. Havia no ar um cheiro de vinho mais forte, vinho que era diferente do que aquele que vi Katarina comprando. Não era um andar grande, sua estrutura estava mais afastada do jardim, o que por consequência deixava-o escuro. Mesmo assim, talvez devido aos meus olhos já estarem se acostumando às velas e lamparinas, ou talvez devido ao ritmo da festa me contagiando, mas o fato era que eu andava sem sentir a menor falta de eletricidade.

Pudera, pois elétrica estava a mão de Katarina quando ela me conduziu até um dos quartos - o mesmo que ela havia deixado de me apresentar durante a manhã.

-Escute - ela disse. - Você não é obrigada a nada aqui, você veio como uma Escriba, nada menos do que isso. Mas... nada te impede de entrar, se quiser. Júlio Erandis disse que te achou bonita, sim.

-Ele...achou? Não entendi - respondi, sobressaltada pelo choque gerado pelas palavras de Katarina, somados com a gritaria entusiasmada que eu ouvia através da porta.

-Aqui - Katarina retomou -, é a continuação da festa, mas agora um pouco mais exclusiva. Você não estará sozinha, claro, tem mais gente lá dentro. E eu também vou participar.

-Você o quê...? Mas quando você disse aquilo no banho público, eu pensei que-

-Não precisa pensar por mim, meu amor. Escute - Katarina disse -, você pode entrar somente para olhar, se quiser. Mas, na minha opinião, é uma atitude muito rude olhar e não participar.

Fez-se uma pausa entre nós. Eu olhava de Katarina para a porta, da porta para Katarina e via uma nova mulher se desvendando perante os meus olhos, perante a noite de Pompeia. Ela tinha um sorriso que exalava segurança e poder. Não se podia acreditar por um segundo que estava brincando.

-Ora, já me chamaram de coisas piores! - surgiu uma voz, antes que eu conseguisse articular qualquer resposta, e imediatamente viramos a cabeça para a direção dela.

Era a voz de Tetraí­des, e ele falava do fundo do corredor, lado oposto ao da escadaria. Segurava uma lamparina na mão e estava andando até nosso encontro.

-Tetraí­des?! Mas quando foi que você sub - eu disse no reflexo dessa surpresa, mas no segundo seguinte calando minha boca com a mão. Sim, eu havia pensado nele algumas vezes, mas ainda não havia dito qualquer coisa muito menos tido qualquer tipo familiaridade com ele! Tetraí­des sequer sabia meu nome.

-"Quando foi, quando foi" - começou ele, no mesmo tom descontraí­do que usou durante a tarde - Ah, não acho que seja rude não participar da festa. As cantoras são bonitas, mas não estou com vontade de dividir espaço com Júlio Erandis e outros anciões, não senhora. Verdade que eu ganho a vida em arenas, Kath, mas quando estou de folga eu prezo por um pouco de espaço.

-Que seja, você não muda - disse Katarina, agora com a mão na maçaneta e um sorriso alegre no rosto. - Estou sem tempo para essas conversas, com licença. E Marcela - acrescentou ela, entregando a vela que segurava para Tetraí­des. - Se mudar de ideia, estaremos aqui.

Dito isso ela fechou a porta e fiquei do lado de fora, de frente para Tetraí­des, que me encarava, agora com duas velas nas mãos, realçando seu olhar.

-Então você não vai entrar - ele disse.

-Isso foi uma pergunta? - retruquei.

Tetraí­des deu de ombros. O peso de sua armadura fazendo barulho a cada movimento - Bom, como você pode ouvir - ele disse -, eu não recomendo que entre.

-Sou uma mulher livre, afinal. Não sou uma escrava. Você não deveria ter dito aquilo.

As luzes das velas dançavam e traziam mil e uma imagens do rosto daquele Gladiador. Começando com uma aparência intensa e sensual, mas, também, um tanto complacente. Ele abaixou a mão que segurava a vela e assumiu uma postura de quem iria se retirar.

-Mas - voltei a dizer num sobressalto, e a atenção dele voltou a mim. "“É que estou sem entender, parece que está tudo ao contrário aqui...Katarina entrou nesse quarto, e isso depois de ela falar para mim o quanto desgosta de todas aquelas obscenidades retratadas no banho. E você...

-É - me cortou ele, com um sorriso de canto de boca, deixando as velas no chão. - E eu? Eu o quê?

-Você parece que é um bom frequentador dos banhos - eu disse, da forma mais rápida que pude. - Parece que é muito querido por lá.

-Leu alguma coisa sobre mim, não foi? Tudo bem. Me diga, onde e o que você leu?

-Onde? Tem mais de um lugar...?

-Vamos sair de perto dessa porta.


PARTE III



Sem olhar para mim, Tetraí­des me conduziu pelo ombro, de volta para o corredor de onde ele tinha surgido. Andamos até o fundo. Ele esqueceu-se das velas ao lado da porta do quarto e agora a única iluminação era uma pequena janela ao lado da qual paramos.

-Eu acabei de dizer à Katarina que já ouvi coisas piores sobre mim. Essa é uma das coisas.

-Talvez você tenha dado motivo.

-Sou um Gladiador - ele retrucou. - Por isso é normal as pessoas terem...í s vezes...ilusões sobre mim.

-Algumas mulheres, você quer dizer.

Não sei de onde, mas eu tirava coragem para falar com ele, olho no olho, palavras na ponta da lí­ngua. Mas a verdade da verdade é que meu coração pulava e eu agradecia o fato de estarmos em quase total escuro - não queria que ele notasse minhas pernas tremendo.

-Cavalgo de cidade em cidade, de arena em arena - retomou Tetraí­des -, então é normal que eu não possa cumprir certas promessas. Mas não, eu não tenho um filho bastardo.

Dessa vez não respondi. Não obstante, Tetraí­des aproximou sua cabeça de mim e tornou sua voz para meu ouvido.

-Não confia em mim?

-Como posso...

E, sem avisar, assim, de um segundo para o outro, ele tirou sua espada da bainha. Eu não movia um músculo. Mas Tetraí­des, sempre sem tirar sua cabeça de perto dos meus ouvidos, num gesto hábil, levou sua espada entre seu pescoço e o meu.

Impossí­vel saber se com isso ele ameaçava me matar ou se suicidar.

-Sou um homem bom, cara Marcella - disse ele, numa voz baixa, porém clara; só meu ouvido esquerdo a ouvia - Eu tenho um senso de dever a cumprir... por isso, às vezes meus combates, minha espada, essa mesma espada aqui, ela fica entre mim e as pessoas que eu conheço.

Dito isso, me encarou com todo aquele olhar. Pensei que iria me beijar. Eu queria beijar ele. Cheguei mesmo a morder os lábios naquele momento, mas a espada permanecia ali, entre nossos pescoços.

-Me diga se você entende.

-Entendo - respondi.

-Me diga se você confia em mim.

-Confio em você - respondi de novo.

-Me diga se você quer.

-Quero.

E então, não soube se ele se cortou, ou se eu me cortei com o movimento de cabeça. Não soube de mais nada, porque já não tinha percepção alguma do que não estava em frente aos meus olhos. Soube apenas mover meus lábios e deixá-los se encontrarem com os dele, e, ainda que tivesse um relógio, não saberia quanto tempo ficamos nos beijando. Tetraí­des, ele me beijava, ele segurava minha cabeça com uma mão, e com a outra acariciava minha cintura.

-Tudo bem - disse ele, interrompendo nosso beijo. - Acho que você não quer entrar naquele quarto e eu também não. Mas tenho uma ideia. Vamos descer.

Eu assenti e descemos as escadas, ainda enroscados um com ou outro. A festa que encontramos ao retornar para o térreo estava mais calma, na falta de seu anfitrião. Os convidados em grupos dispersos, mas ainda em um número maior do que quando eu havia subido. De qualquer maneira, o vinho continuava sendo passado para todos os lados.

Peguei um copo para mim, e Tetraí­des me virou pelo ombro.

-Escute, Marcella. Desci porque preciso resolver uma coisa, mas ainda volto para encontrar você, está bem? Fique pela festa. E não exagero no vinho.

Eu, por toda minha curiosidade de viajante e também de mulher encantada, estava prestes a perguntar, entre outras coisas, os vários porquês da sua ausência, mas Tetraí­des foi rápido em dizer e se afastar. Suas pernas naquela mesma passada estranha, mas de toda maneira muito mais ágeis e atléticas do que antes eu havia julgado ser possí­vel.

Uma vez de volta à festa, sozinha e sabendo-se lá até quando, decidi aproveitar meu tempo. Entrei em conversas e reabasteci meu copo. Pensei em perguntar sobre Tetraí­des, se bem que, no fundo no fundo, eu não queria realmente saber. O que eu queria era formar uma opinião própria, e de uma vez por todas. Sim: queria simplificar meus pensamentos, para variar.

Andando pela casa, tomei conhecimento de toda a festa, ao menos no que dizia respeito ao andar térreo. Mas estava mais inquieta do que verdadeiramente curiosa. Sensação estranha, porque, naquele momento, os romanos e seus costumes não ocupavam tanto espaço em minha cabeça quanto no começo da minha viagem no tempo, com a exceção de Tetraí­des; e eu nem ao menos tinha certeza se ele de faro era romano.

Parei de andar quando me aproximei de uma janelinha que dava para o fundo da casa, oposta ao jardim. Através dela, olhando o horizonte, havia um borrão no céu escuro da noite, o qual eu sabia ser o Monte Vesúvio, isto é, a figura que ficaria para sempre marcada na história de Pompeia, como nenhuma outra. Não, não seria hoje que ele entraria em erupção. Na realidade, a única erupção da noite vinha de mim mesma, pois eu mal podia conter minha expectativa, minha cabeça era uma mixórdia de emoções - será que eu estaria para quebrar uma regra da máquina do tempo? Não fazia a menor ideia; nunca havia passado por uma situação semelhante.

- Aqui - surgiu a voz de Tetraí­des.

Não haví­amos combinado quando e onde irí­amos encontrar, mas ele surgiu. Menos sério do que antes, eu pude notar. Seu sorriso era lindo. Sem hesitar, ele aproximou-se de mim e colocou seu braço de gladiador em meus ombros.

-Você acertou uma coisa sobre mim - continuou ele - Porque é verdade, eu realmente gosto de frequentar banhos públicos. Agora, quero lhe mostrar uma coisa. Venha comigo.

Fui com ele. Descemos uma leva de degraus que estavam bem camuflados no hall da sala e fomos para o que seria o subterrâneo da casa. Era uma outra ala que Katarina também deixara de me mostrar. Lá embaixo, porém, a passagem era bem-acabada e iluminada por lamparinas de parede. Silêncio total, embora não parecesse que estávamos seguindo para o que seria um lugar secreto. A festa não havia se estendido até ali, embora houvesse sinais de vida no caminho: toalhas, vasilhas e respingos d"água para todos os cantos.

Mais alguns passos e encontramos um pequeno portão, que, no entanto, não deteve Tetraí­des. Ele destrancou o cadeado e me abriu a passagem.

-Damas primeiro.

De todas as possibilidades, o que estava diante de mim era uma casa de banho, mas essa, ao contrário daquela que Katarina havia me apresentado, não tinha sinais de degradação, tampouco de sujeira. Era a casa de banho particular de uma das pessoas mais ricas de Pompeia. Uma espécie de piscina redonda, que apesar de não ser profunda, parecia muito agradável, acomodada por banquetas que faziam toda a circunferência no interior de suas bordas.

A câmara da piscina, ela era decorada com pinturas bem trabalhadas na parede, e havia estátuas de pessoas e animais ao fundo. Não me lembrava de ter visto nenhuma daquelas obras nos museus; era, portanto, um lugar que não seria poupado até o meu futuro. Estranho pensar, era a primeira e última vez que eu veria cada objeto dali. A piscina magní­fica, mas não somente ela como toda a estrutura subterrânea do lugar me fazia brilhar os olhos, ao mesmo tempo que me dava calafrios.

Ao meu lado, Tetraí­des desfrouxava a alça de suas vestes de Gladiador.

-Por que você veio com essa armadura? - perguntei, tanto pela dúvida tanto para fazê-lo falar mais.

-Porque estamos festejando, minha cara. Não só pelo dono da casa, mas por mim também.

-Por você...?

-Não importa agora - ele retruca e eu não pergunto mais nada.

Não pergunto mais nada e Tetraí­des vem à minha direção e segura minha cabeça, dedos quentes atrás do meu pescoço. Encolho meus ombros com esse gesto, enquanto paralelamente alargo meus braços e abraço seu corpo. E nos beijamos novamente e novamente perco a contagem no tempo.

Ato seguinte, Tetraí­des leva as duas mãos à minha cintura, me ergue no ar e eu entrelaço minhas pernas em volta dele, sentindo, sim, para o meu tolo alí­vio, que eu não era a única entrando em erupção.

Porque agora somos um corpo só e com aquelas pernas...e com aquelas pernas ele me leva à banheira. Mina túnica sai de uma vez, mas Tetraí­des, ele não tira o resto de sua armadura, entra com ela na banheira, e eu sinto ele e a fricção do metal e a água quente da banheira cobrindo a minha pele.

A profundidade não deve ser maior do que um metro, tanto que fico posicionada contra a borda, reclinada, quase na altura do chão, Tetraí­des segurando meu peso enquanto mais uma vez coloca sua cabeça ao lado do meu ouvido. Ele murmura um latim que não compreendo enquanto me penetra. Ele impõe um ritmo forte que faz com que meu quadril se mova junto com o dele e todo o silêncio daquela câmara é substituí­do por nossas vozes, eu, gemendo alto, ele, agora murmurando 'Marcella' com um sotaque, alternando meu nome com palavras que eu hora compreendia, hora não.

Em seguida, com um impulso só Tetraí­des me levanta e me coloca deitada fora da água. O chão é duro, mas no momento me sinto confortável com qualquer tipo de chão ou de dureza, e também com um impulso só Tetraí­des sai da banheira, músculos delineados flexionando-se na borda da piscina quando ele se levanta. Eu, deitada para ele, nua e corpo inteiro molhado, minha boca respingando o que tanto podia ser água da banheira quanto o pouco de saliva que ainda me restava.

Vejo Tetraí­des colocar seus dois braços ao redor do meu corpo, e direcionar-se ao chão devagar, como se estivesse simplesmente fazendo uma flexão de braço.

-Gosto dos seus peitos - ele diz, mas ainda não toca neles. Ao invés disso, ainda em uma flexão de braço, ele leva a sua boca aos mamilos, enquanto vagarosamente desce a mão esquerda, primeiro para minha barriga, depois para cintura e coxa, até chegar ao clitóris e vagina, me acariciando, me penetrando, me amando.

Eu gemo mais e mais, coloco minhas mãos nas omoplatas dele, e, cega para qualquer reação que Tetraí­des pudesse ter, o aperto forte, repito apertos tão fortes quanto meus próprios gemidos, no que, afinal, ele não se importa, pelo contrário, pois mais intensamente continua a me beijar e a me acariciar.

Sinto que gozaria em breve, mas ele para. Levanta a cabeça, resfolegante.

- Gosto dos seus olhos - diz. Dali voltando a me penetrar, agora em um ritmo mais lento, sem desviar o contato visual de mim.

Eu fecho os olhos e o sinto em meu corpo, mais e mais e mais.

Abro os olhos e ele continua intenso. Estou praticamente incapaz de associar ideias com palavras, mas, movida por uma lembrança magní­fica, eu consigo. Levo minhas mãos ao seu rosto, a barba molhada grudando em minhas mãos.

-Escute, Tetraí­des - eu digo. - Pegue a sua espada, por favor...não vamos deixar que ela fique no nosso caminho...por favor, pegue ela.

Ele sorri e pisca o olho, no que compreendo que não precisaria dizer mais nada. Tetraí­des, ao menos naquele momento, ele era mais que um Gladiador, ele era um leitor de corpo e de pensamento.

Por isso ele dá a volta pela banheira e apanha a espada que havia ficado no chão, no outro lado da borda. Traz ela fora da bainha, lâmina afiada rente ao seu peito nu. Permaneço deitada, barriga para cima. Tetraí­des, ainda com a espada na mão, deita--se e volta a me beijar, peito, cintura e pernas, em movimentos que não sei dizer se correm o risco de me cortar com a lâmina, vez que permaneço o tempo todo de olhos fechados, tremendo e me deliciando com os ares do Império Romano.

E, antes que eu pudesse abrir os olhos para olhar o teto da câmara, Tetraí­des me vira de barriga para baixo, levemente agachada, no que puxo o ar bem forte porque de antemão sei o que ele vai fazer.

Volta a me penetrar em ritmo constante, ao mesmo tempo em que umedece bunda e ânus, e puxar frases com um latim difí­cil, porém não faço escorço para compreender...

Até que então ele para e repousa a mão em minha nuca.

-Preparada? - ele pergunta, agora com extrema clareza na voz.

Eu aceno que sim. Aceno e torço a cabeça para trás, para ver Tetraí­des reposicionando o modo com o qual empunhava a espada. Ele, sabendo-se lá quantos anos acostumado a apontar a lâmina para seus inimigos, faz ela girar cento e oitenta graus, de maneira que o cabo fica apontado para mim, que não por acaso também estou em cento e oitenta graus. O cabo poderia ser quase tão assustador quanto a lâmina, mas havia sido esculpido de forma com que uma ponta um pouco mais fina antecedesse a parte mais grossa da madeira, uma escultura preciosa que eu de pronto sei que posso aguentar.

Agora Tetraí­des tem duas espadas e entra em mim com vigor. Eu não me vejo nem como um escudo ou como um oponente às espadas, nada disso, pois na verdade sequer vejo alguma coisa, novamente olhos fechados, arranhando o piso, arranhando a garganta, todo o peso do maior Gladiador de Roma dentro de mim.

É prazeroso, mas é contraditório também: porque embora eu tenha viajado para um tempo passado, enquanto vivo cada movimento de Tetraí­des, eu sinto o mundo girar e girar...e meu gozo chega em giros também.... Gemidos, gritos, sussurros e tremedeiras que - disso eu sempre soube - jamais ficarão na história registrada de Pompeia... mas que, ainda assim, me fazem vivenciar um dos momentos mais verdadeiros e ao mesmo tempo crus de minha história particular.


Por um tempo fiquei deitada no chão, Tetraí­des junto de mim. Havia bancos com almofadas nos cantos da banheira, mas por algum motivo resolvemos ficar por ali mesmo. Não sabia se a festa havia terminado; a câmara era subterrânea, afinal, nada de janelas ou comunicações com o piso térreo. Minha cabeça deitada no peito de Tetraí­des, que ia de baixo para cima, puxando e soltando ar. Em breve ele tiraria as partes da armadura que ainda tinha alçada e então voltarí­amos para a piscina e transarí­amos mais uma vez, rosto frente ao rosto, corpo frente ao corpo. E tudo que sucederia isso viajando como um borrão em minha memória.


No dia seguinte, quando acordei, estava em um quarto da mansão, segundo ou terceiro andar, Tetraí­des ainda ao meu lado. Já era de manhã. Ele ficava mexendo a barba, olhando para mim com tranquilidade, em seguida desviando o olhar para o teto.

Queria muito conversar, mas o que eu mais queria comunicar era impossí­vel tanto pelas regras da máquina do tempo quanto pelos entraves da lí­ngua. Pois, no latim não há uma palavra para vulcão. O Monte Vesúvio, a poucos quilômetros dali, visí­vel de quase todos os pontos da cidade, era considerado pelos romanos da época penas uma montanha como qualquer outra. Ninguém sabia que ele já havia entrado em erupção e que em breve entraria de novo.

Ainda naquela manhã, eu saí­ da cidade e fui em direção ao Vesúvio pela primeira vez. Minha pele arrepiada, podia até sentir o cheiro da destruição eminente. Ah! Morria de vontade de conhecer a cidade de Pompeia em seu auge, antes da tragédia, e foi exatamente isso o que fiz. Mas por ingenuidade minha, por insensibilidade minha, esqueci de levar em consideração que todas as pessoas que eu estava conhecendo, numa chance de 99 em 100, morreriam na tragédia.

Porque o Monte Vesúvio entraria em erupção dali a um mês e no ato varreria a cidade de Pompeia inteira do mapa, juntamente com sua população.

Eu não podia saber com certeza se Tetraí­des sobreviveria. Eu não podia desrespeitar o código da Máquina do Tempo, não podia usar o meu conhecimento do futuro para alterar o curso da história. Minha única esperança era que ele, por ser um Gladiador, tinha uma chance razoável de estar em uma cidade distinta no dia D. Se bem que -lembrança terrí­vel! - todo aquele grafite em sua homenagem me contradizia, vez que eles diziam que sim, que de fato Tetraí­des gostava de passar bastante tempo em Pompéia.

Eu não podia induzi-lo a qualquer ato, mas nada me impedia de perguntar. Naquela mesma tarde, voltei a me encontrar com ele.

-Onde você vai estar no próprio mês?

-Posso estar em qualquer lugar - respondeu. - Continuar aqui, se a hospitalidade de Erandis continuar agradável. Posso arranjar uma batalha em Nápoles, gosto do clima de lá. Mas só na hora certa vou saber.

Na hora certa, repeti para mim mesma. Enquanto eu já havia programado a Máquina do Tempo para me devolver de volta ao século 22 em algumas horas, ele não fazia plano nenhum.

-Sim - tornei a dizer, voltando a aconchegar minha cabeça em seu peito. Ao redor dele havia cicatrizes e cortes de todos os tamanhos.

Pelo menos uma coisa, concluí­, era possí­vel fazer. Poderia convencê-lo de deixar de lado a ideia de entrar em combate com o peito desprotegido. Achei que não quebraria nenhuma regra com isso, embora não fosse certeza. Melhor que soubesse na hora certa.



FIM


Esse é o primeiro volume da série 'Máquina Daqueles Tempos', também disponí­vel de graça na Amazon:


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*Publicado por CrisVenturini no site climaxcontoseroticos.com em 05/06/16.


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