Sobre viver e amar..., 2

  • Publicado em: 06/03/18
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  • Autoria: PequenoAnjo
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Raros são aqueles que decidem após madura reflexão; os outros andam ao sabor das ondas e longe de se conduzirem deixam-se levar pelos primeiros.

(Sêneca)


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ANABELLE, MINHA MÃE

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9 de julho de 1987, quinta-feira - São Luí­s, Maranhão

Já fazia onze meses desde a morte de Roberto, Nelson foi uma companhia super gostosa. No iní­cio tentei continuar naquela névoa de sofrimento, mas o mano não era de entregar os pontos com facilidade e passou a inventar mil maneiras para me distrair. Aos poucos fui me reacostumando à alegria contagiante do Nelson, às brincadeiras, piadas e, principalmente, às comidas que inventava.


Nelson é um homem muito bonito: loiro, olhos esverdeados, alto e com uma inteligência que deixa a gente estonteada.


Aos poucos fomos alterando até mesmo as posições dos móveis. Era para dar nova forma à casa, falou brincando.


Não sei o que seria de mim sem tua presença, Nelson - falei percebendo que já não havia tanto vazio em minha vida - Tua vinda melhorou meu astral!


Ele riu e me abraçou forte.


Minha garotinha não pode ficar sempre triste... - senti o batucar de seu coração e uma estranha felicidade tomou conta de mim.


Conversamos muito sobre a vida e ele contou das experiências em João Pessoa e das aventuras no deserto mexicano.


Tu ias adorar aquela gente... - estávamos sentado na varanda apertada do apartamento - Apesar de eu não entender quase nada do que eles falavam... - riu divertido das diabruras que ele e os amigos aprontaram por lá.


E aí­? Pintou alguma mexicana em tua cama?


Não sei por que perguntei, mas ele continuou brincando e não percebeu minha agonia crescente.


Dei minhas pimbadas por lá! - se ajeitou na cadeira de macarrão e virou-se para mim - Juanita foi um achado e tanto!


Tinha certeza que meu garoto ia deixar alguma suspirando por lá!


Não sei porque aquele aperto na garganta e, sem me dar em conta, levantei entristecida.


Que foi? Falei alguma coisa errada? - ele ficou sério e preocupado.


Não!... - tentei sair pela tangente - Eu é que ando meio carente últimamente...


Nelson ficou um tempo olhando para mim antes de também levantar-se e entrar para a sala.


Tu estais com saudades do Roberto, não é?


Nunca deixei de sentir sua falta...


Mas, e eu? - me encarou.


Que tem?


Tenho me comportado bem, não tenho?


Já te falei que tu é maravilhoso... Não sei que faria sem você!


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No dia seguinte mamãe veio nos visitar. Nelson havia saí­do para a faculdade e só voltaria no final da tarde.


Como está a vida, minha filha! - mamãe me abraçou - Pelo que vejo já não é mais a bezerra desmamada que chora pelos cantos - rimos e fomos para a copa.


Graças a Deus que o Nelson veio... - falei enquanto coava café novo - Sem ele eu teria pirado!


Conversamos animadas e ela contou das novidades do papai e das lojas.


Ele tem se comportado bem? - perguntou de repente e eu não entendi.


Quem, mãe?


Nelson! Quem mais poderia ser? - ela tinha um sorriso maroto estampado no rosto - Ainda não te atacou?


Fiquei chocada com o comentário.


Quem me atacou?


Mamãe balançou a cabeça divertida.


Ora, Ana Carolina! - passou o braço em meu ombro e fomos para a sala - Não me diga que não aconteceu nada?


O que teria que acontecer?


Nos sentamos nas almofadas espalhadas pelo chão. Mamãe também casou muito nova e me teve antes dos dezesseis, naquele ano ela estava com 41 e continuava muito bonita, nem parecia que tinha um casal de filhos com 26 e 25 anos e que eu já era viúva.


Quer dizer que vocês estão morando nesse apartamento há quase um ano e nunca rolou nada? - parecia que ela não ia acreditar que éramos apenas irmãos e que Nelson jamais havia tentado nada - Porra garota! Na tua idade eu já tinha avançado o sinal...


Que é isso mãe? - estava realmente estarrecida com o que ela falou - O Nelsinho é meu irmão...


Nem uns amassinhos, uns toques? - ela estava rindo de mim - É difí­cil de crer nisso, minha filha.


Sempre fomos assim, não temos essa tal barreira das gerações. Foi mamãe quem me deu as primeiras dicas sobre sexo e me aconselhou em todos os momentos de minha vida.


Você sabe que não tem essas frescuras conosco... - acarinhou minha cabeça - E que nunca escondi nada de você...


Sei disso, mãe! - deitei em seu colo - Mas juro que nunca fizemos nada de errado...


Mamãe se encostou à parede e ficamos um tempão caladas.


Tu não sentes tesão por ele? - quebrou o silêncio.


Não como homem... A senhora sabe disso...


Mas... - incentivou-me a continuar.


Ele é um gato, não é mesmo? - sorri encabulada - Deve ser um garanhão na cama!


Mas já pensou? Não pensou?


Tem noite que sinto vontade de dar uma boa trepada..., mas... Fico morta de vergonha e me sinto uma depravada só de pensar nessas coisas - deitei de bruços apoiando o queixo nas mãos - O que a senhora faria?


Foi a vez dela perder o rebolado e a gaguejar sem saber o que responder.


Sei não, filha! Nunca vivi uma situação como essa... - levantou arrumando a saia vermelha - Acho que deixava as coisas irem devagar...


A senhora já praticou incesto?


Mamãe parou estática, notei que a pergunta tinha tocado bem dentro dela, mas ela não tinha irmãos, só duas irmãs: tia Ana, mais velha e a tia Clara, a caçula.


Com quem?


Com o vovô, por exemplo? - ela me encarou espantada, não esperava que eu mudasse o jogo.


Não! O papai sempre foi muito respeitador... Nunca sequer se aproximou de mim, ou das meninas... - caminhou até a cozinha de onde voltou com uma garrafa de vinho e dois copos de pé - Por que você perguntou isso?


Ora, mãe? Foi a senhora quem começou com esse papo de eu trepar com o Nelson...


Ela abriu a garrafa e encheu os dois copos. Voltou a sentar e ficamos bebericando o vinho branco.


Tive um arranca-rabo com o Neto... - voltou a falar - Quase deu a maior confusão quando a mamãe nos pegou uma noite - riu divertida - O coitado levou a maior surra da vida...


Mas ele não é padre? - lembrei do padre Alberto Neto.


Pois é filha! Hoje ele é padre, mas..., era uma perdição, principalmente quando nos reuní­amos na quinta do tio João na Mata do Jipão... - reabasteceu nossos copos - Era o primo mais bonito e quase perdi o cabaço pra ele - passou a mão entre as pernas e vi que ela estava acesa - Depois disso a gente nunca mais se viu, até a ordenação em Caxias.


Continuamos conversando sobre sexo até perto das duas da tarde, quando nos lembramos que não haví­amos almoçado. Mamãe ligou para o restaurante do bairro e pediu frango à passarinha. Comemos rindo das loucuras que ela contava.


E nunca teve nada com as tias? - apimentei.


Só coisas de crianças, nada sério...


Ela olhou as horas e levantou de um pulo.


Meu Deus! Estou atrasada... - foi ao banheiro escovar os dentes e saiu apressada - Cuidado para não pegar filho!... - me abraçou rindo e saiu correndo.


Minha mãe sempre foi assim e acho que, por isso, viveu a vida do jeito mais saboroso, mas daí­ a atacar meu irmão era outra conversa. Apesar dos quase doze meses sem ter um homem, ainda não estava preparada.


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