A bruxa gostosona e o livro mágico - Samara, a fantasminha tarada [Cap.5]
- Temas: EscritorAnônimo, sobrenatural, espíritos, magia, amigas, bruxa, negra, gostosa, livro, ritual,
- Publicado em: 25/05/25
- Leituras: 166
- Autoria: EscritorAnônimo
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NOTA DO AUTOR: Este capítulo não tem nenhuma cena de sexo explícito e nada muito erótico. Resolvi escrever esta parte da história assim pois queria fugir da putaria de sempre e escrever algo mais focado no fantástico e introduzindo a magia no meu Universo das Histórias Eróticas. Mas é claro que a sacanagem volta no próximo capítulo.
De qualquer forma, espero que goste de ler este capítulo da mesma forma que gostei de escrever. Boa leitura.
[ CAPÍTULO CINCO ]
A BRUXA GOSTOSA E O LIVRO MÁGICO
Ficar naquela esquina deserta era uma merda mesmo. E além do mais, o Natal e 2018 estavam chegando e eu continuava presa naquele cruzamento sem perspectiva de deixá-lo tão cedo. Seria legal se Jéssica me deixasse passar o Ano Novo com ela como foi no ano anterior, mas eu achava que isso não aconteceria depois de eu ter posto duas galhas na cabeça dela.
Que grande bosta!
E como não havia absolutamente porra nenhuma para fazer, eu dispunha de apenas três opções para ficar ali: permanecer de pé ao lado do poste e deitar ou sentar na calçada. Eu optei pela primeira opção na maior parte do tempo.
Durante o dia, como de costume, eu me abrigava do sol dentro do galpão abandonado, nas casas próximas, que estavam em sua maioria vazias, e na árvore da outra esquina que ficava na frente da casa daquela ruiva de merda.
À noite tudo ficava escuro, já que a lâmpada do poste ainda estava queimada, e eu ficava boa parte do tempo em pé mesmo, mas tentava inovar. Ficava andando em círculos, subia no poste até o topo e me pendurava nos fios, plantava bananeira, trançava os cabelos. Mas essas atividades acabavam consumindo minha energia fantasmagórica, então eu não dedicava muito tempo a elas. O melhor era apenas ficar parada para não gastar minhas forças.
De vez em quando passava uma moto ou um carro pelo cruzamento e até mesmo algum pedestre com certa raridade, mas eu nem dava bola. Assustar as pessoas perdeu a graça que tinha anos antes.
O cruzamento não era mais o mesmo. A Rua 23 de Março transformou-se em um lugar chato.
Porém, tenho que admitir que fiquei com uma saudadezinha da minha esquina. Eu voltara a ela há uma semana e, apesar de achar um porre ficar presa naquele lugar, os quase vinte anos que fiquei por lá me fizeram criar um tipo de vínculo emocional com ela. Pode parecer estranho, já que a esquina me remetia a lembranças ruins e um sentimento de melancolia, mas realmente ela era minha "casa".
Ter ficado com a Jéssica por um tempo foi bom, apesar do que aconteceu, mas minha esquina era meu verdadeiro lar.
Devia ser umas sete e tanto da noite. O Sol se pôs e o horizonte ainda estava levemente alaranjado. Estava ficando escuro, mas pelo menos as luzes dos outros postes da rua supriam parcialmente a falta de iluminação do meu. Eu estava sentada com as costas apoiadas no muro do galpão abandonado, olhando para o chão da calçada e penteando meu cabelo com os dedos.
Por acaso, eu olhei para o outro lado da rua e vi duas mulheres e um cara passando na outra calçada. Estava um pouco escuro, mas pude ver que uma das mulheres era alta e jovem, a outra era mais baixa, gordinha e mais velha. Provavelmente mãe e filha, mas o que me chamou atenção foi o cara alto vindo logo atrás delas. O sujeito era comprido e pálido, com cabelo e roupas pretas. Quando fitei ele melhor, percebi que seu rosto era familiar.
— Henrique? — falei comigo mesma. — Henrique! — Tentei chamar sua atenção, mas ele não ouviu. Tive que gritar. — EI! HENRIQUE!
Quando ele escutou e olhou para mim, sorriu e veio na minha direção.
Henrique era um fantasma que conheci dois anos antes. Ele era um cara legal. E, como eu, era um fantasma preso no plano terrestre. Mas no caso dele, preso por causa da ex-namorada que ele não conseguia esquecer e por quem continuava sendo perdidamente apaixonado mesmo depois de mais de quatro anos morto. O coitado seguia a moça para todo lugar como se ela ainda fosse sua namorada e se alguém dissesse que ele não poderia mais ficar com a garota, o pobrezinho ficava furioso e dizia que ainda conseguiria reatar a relação dos dois de algum jeito.
Era triste ver como ele iludia-se com um amor que tornara-se impossível.
— E aí, Samara. Faz tempo que eu te vi. Como é que você tá?
Ele era bonito, alto e magro, quase como um jogador de basquete ou vôlei. Usava camisa e calça pretas, sempre de pés descalços e com o cabelo preto escorrido.
— Oi. Tá tudo bem — falei, enquanto levantava da calçada. — E você, como tá? — Eu tinha que olhar para cima enquanto falava com ele.
Henrique olhou em direção à ex e à mulher do outro lado da rua e o sorriso sumiu de seu rosto.
— É... Tá tudo legal... Onde é que você tava esses dias? Um dia desses eu passei por aqui e não te vi.
— É que eu acabei indo passar uns dias na casa de uma amiga, mas eu já voltei pro meu canto.
— Ah, sim — Ele ficou quieto por um segundo e colocou as mãos nos bolsos — Ei, mais você ainda tá precisando de ajuda pra sair daqui de vez?
— Ajuda pra sair? Como assim? Que tipo de ajuda?
— É que tem uma médium aqui na cidade que ajuda a gente agora. Ela consegue ouvir e falar com a gente. Eu fui conversar com ela esses dias. Dizem que ela consegue acabar com todo tipo de feitiço e macumba que jogam nas pessoas também. Tira maldição, trabalho, acaba com mau-olhado. Faz de tudo. E falaram que ela resolve o problema dos espíritos... Acho que ela consegue acabar com esse teu problema de não poder sair daqui sozinha... Ela pode te libertar.
Eu apertei as sobrancelhas estranhando aquele papo do Henrique e cruzei os braços meio descrente.
— Médium? É sério?
— É. Ela manja dessas parada de sobrenatural, magia... Dizem que ela é foda.
Uma médium que acabava com maldições? Isso não era tão novidade para mim e não parecia ser alguém muito confiável. Provavelmente mais uma charlatã enganando as pessoas para comer o dinheiro delas.
— E essa médium disse o quê pra você? — perguntei.
Henrique fechou a cara e olhou novamente em direção a ex-namorada e a mulher que já iam bem à frente na outra rua.
— Nada de mais... Besteira... — Ele pareceu bravo. — Ela disse que eu tinha que parar de ficar atrás da Lorena. Que eu não tinha mais nada com ela..., que eu tinha que aceitar que a gente não ia mais ficar junto... Mas ela ainda é minha. De jeito nenhum eu vou desistir dela!
Pobre Henrique. Conhecendo-o e sabendo que ele ficava iludindo-se pensando que poderia voltar com a ex, já sabia que ele ficara muito zangado quando a tal médium lhe disse a verdade.
Ele olhou mais uma vez para a ex e a mulher, que já estavam dobrando a outra esquina, parecendo preocupado de estar tão longe delas.
— É... Tenho que ir, mas a médium, eu acho que ela pode te ajudar. Talvez ela te tira daqui... Você tem que falar com ela.
Aquela história ainda parecia suspeita, mas, sendo verdade, será que a tal médium poderia me ajudar a sair daquela esquina? Ou melhor, se a médium conseguia falar com espíritos, então ela podia entrar em contato com o Ricardo? Será que ela conseguiria encontrá-lo?
— Mas ela consegue falar mesmo com espíritos? — perguntei.
— Consegue. Ela me escutou e falou comigo.
— E será que ela invoca quem já morreu? Ela traz quem morreu de volta?
Henrique apertou os punhos, parecendo contrariado.
— Não. Eu pedi pra ela fazer isso. Pra dar um jeito de eu ficar com a Lorena de novo, mas ela disse que isso não tinha como acontecer. Que eu tinha que aceitar que perdi ela. Mentira!
— Não, Henrique. Eu tô falando de invocar quem morreu e não de trazer de volta a vida. Tipo, ela consegue encontrar e se comunicar com um espírito se pedir pra ela?
— Ah, isso eu não sei, mas acho que sim. Se ela conseguiu falar comigo, acho que consegue falar com qualquer um.
Fiquei curiosa. Talvez a médium não fosse uma picareta. Sendo assim, ela poderia me dizer onde estava o Ricardo? Será que aquela era a chance de reencontrá-lo?
— É, acho que eu podia falar com ela — disse eu. — Ela mora onde?
— A casa dela fica no Fernando de Noronha. Não lembro o número. Ela tem uma loja — Henrique olhou a esquina por onde sua ex e a mulher passaram. — Mas agora eu tenho que ir. Minha namorada não pode ficar sozinha. Tchau.
Ele saiu pela rua apressado.
— Tá, tchau — disse eu, acenando para ele. — Passa aqui de novo outro dia pra gente conversar mais.
Henrique estava no meio da rua quando um carro passou através dele.
— Beleza — Ele mostrou o polegar. — Acho que amanhã eu passo aqui de novo pra te ver.
Henrique correu atrás da ex e eu fiquei pensando na médium. Aquela poderia ser a chance de finalmente encontrar o Ricardo. Será que ela poderia trazer a pessoa amada de volta, mesmo essa pessoa estando morta?
Mas o problema seria chegar na médium que morava quase do outro lado da cidade. Precisava pegar carona com alguém para ir até a Jéssica, mas quem?
Bem, não apareceu ninguém pela rua para eu usar como transporte. Passaram alguns carros e motos nas outras, mas no meu cruzamento nenhuma movimentação. À noite, as ruas da cidade ficam desertas mesmo. De qualquer forma, já era tarde e não dava para ir na loja da médium naquele horário.
Enfim. Fiquei sentada no meio-fio pelo resto da noite pensando na médium que Henrique falara. Talvez fosse bobagem. Poderia ser apenas uma farsante mesmo. Mas ele disse que falou com ela, o que lhe dava credibilidade, e que a mulher tirava maldições. Será que ela poderia mesmo me libertar daquela esquina?
As perguntas ficaram girando dentro da minha cabeça pelas horas seguintes. De madrugada, começou a chover fraco e continuei sentada até o amanhecer. O Sol não deu o ar da graça e o céu estava completamente nublado e cinzento. A chuva deu uma trégua, mas o ar continuou gélido do jeitinho que eu gosto.
Os dias frios e sem sol são os melhores.
Quando era aproximadamente umas sete horas, eu fui para a outra esquina à minha esquerda, para baixo da árvore em frente à casa da ruiva arrombada. O sol continuava atrás das nuvens, mas caso ele aparecesse eu já estaria protegida.
A chuva fina retornou e fiquei parada ao lado do tronco da árvore, de costas para a casa da ruiva, observando o asfalto úmido e o pequeno fluxo de água passando pela sarjeta.
De repente, ouvi um ruído e, quando olhei para trás, vi a ruiva saindo da casa dela com uma sombrinha lilás em uma mão e uma sacola na outra.
Imediatamente pensei que ela era minha oportunidade de sair dali e ir até a Jéssica. Que coincidência da porra! Justamente a ruiva que eu tanto detestava.
"Essa é a chance", pensei.
Quando ela virou de costas para fechar o portão da casa, eu olhei para os dois lados, certificando-me que não havia mais ninguém por perto, e me materializei.
— Dá licença, você pode me ajudar?
Ela virou-se para mim.
— Oi?
Ela estava de short, blusa preta e com o cabelo ruivo preso em um rabo de cavalo.
Eu sorri para ela e tentei parecer a mais simpática possível.
— Será que você pode me ajudar a encontrar um endereço de uma casa que é de uma amiga minha? É que... Eu não conheço essa região.
Beatriz abriu a sombrinha.
— Claro, onde é essa casa?
— É na Rua 15 de Dezembro, você sabe onde é?
— Sei sim. É só você seguir por essa rua e dobrar pra direita lá na frente — Ela apontou para o final da rua.
— Ah, sim..., mas você pode me levar lá, por favor? Eu não conheço o bairro e... Eu tenho medo de andar sozinha por aí.
— Posso sim — disse a ruiva.
— Não vai te atrapalhar?
— Não, vamo lá.
— Tá. Vou aproveitar pra pegar uma carona debaixo da tua sombrinha também — falei, sorrindo para ser mais agradável.
Andamos por alguns segundos em completo silêncio sob a sombrinha dela e, enquanto atravessávamos a rua, não pude deixar de reparar melhor a ruiva pelo canto do olho. Ela era muito bonita, branquinha e com um corpo lindo. Não era gorda, era muito gostosa. A bunda grande e empinada, as coxas grossas. O rosto dela era arredondado com bochechas rosadas. Apesar de não ir com a cara dela, precisava reconhecer que a ruivona era muito tesuda.
Continuamos seguindo pela rua em completo silêncio até que resolvi falar qualquer coisa para quebrar o gelo.
— Você... Mora aqui faz tempo?
— Faz não. Eu me mudei pra cá faz uns... Sete meses.
— E... Você tava indo pra onde na hora que você tava saindo de casa e eu apareci pra te atrapalhar?
— Eu tava indo pra casa de uma amiga minha, mas você não tá atrapalhando não. Ela mora aqui nesse bairro mesmo.
A chuva parou e andamos mais um bocado até finalmente chegarmos à esquina da rua 15 de Dezembro, ao lado da casa da Jéssica.
— É aqui mesmo. Obrigada por me trazer — falei.
— De nada.
— E qual é o seu nome mesmo?
— É Beatriz.
— Muito obrigada, Beatriz. Tchau.
— De nada. Tchau — Ela sorriu timidamente antes de seguir seu caminho.
Ela até que era simpática.
Esperei ao lado do portão da casa da minha amiga enquanto a ruiva se afastava. Não perdi a oportunidade de ficar olhando aquela bundona gostosa com o shortinho curto. Observei em volta. Só havia uma senhora na rua mais acima indo na outra direção. Me desmaterializei, atravessei as grades do portão correndo e invadi a casa da minha amiga pulando através da porta.
— Jéssica!
A televisão estava ligada e a vampira estava agachada ao lado do sofá, montando a árvore de Natal, segurando uma caneca azul de plástico cheia de café. Com o susto da minha aparição surpresa, ela deu um pulinho e caiu de bunda no chão. A caneca voou para um lado, derramando café no chão, e a árvore, que Jéssica acabou puxando sem querer, caiu para o outro espalhando bolas coloridas pela sala.
— PORRA! — berrou a vampira, levantando furiosa. — Samara? OLHA O QUE VOCÊ FEZ, SUA FILHA DA PUTA! O que é que você tá fazendo aqui, caralho?
— Desculpa — Levei as mãos ao rosto vendo o que tinha feito. — Foi sem querer.
Mas não adiantou pedir desculpas, Jéssica começou a me xingar com uma variedade de palavrões e eu apenas pedi perdão sem parar.
Minha amiga foi na cozinha e voltou com um pano para limpar o café derramado enquanto eu levantava a árvore e recolhia as bolas coloridas, o pisca-pisca e o festão vermelho e deixava debaixo do pinheiro de plástico.
— Desculpa mesmo — falei. — Nem sabia que você tava aqui enfeitando a árvore.
— Ah, Samara, vai tomar no cu! — Jéssica estava furiosa. Ela pegou o controle remoto sobre o sofá e mutou a televisão. — Podia pelo menos ter batido na porra da porta! Que merda!
— Foi mal. É que eu precisava muito falar com você. Preciso de ajuda sua pra ir no Fernando de Noronha.
— E pra quê você quer ir lá? — Jéssica estava terminando de limpar o café passando o pano no chão com o pé.
— Eu acho que descobri um jeito de falar com o Ricardo.
— O quê? Que Ricardo? E como foi que você chegou aqui?
— Eu peguei carona com uma menina que tava passando pela rua... Ricardo é o cara que eu te falei, o que morreu. Me falaram de uma médium que consegue se comunicar com espíritos. Eu preciso da sua ajuda pra ir falar com ela.
— Ah, agora pronto. Mas precisava aparecer assim desse jeito? Quase me mata do coração... Puta que pariu! Mas e que médium é essa?
— Me deram o endereço dela e eu preciso que você vá lá comigo pra ver se consigo falar com o Ricardo através dela. E dizem que ela pode até me fazer sair da esquina.
Jéssica me olhou, contraindo as sobrancelhas, parecendo confusa.
— É sério?
Expliquei a ela o que Henrique me dissera sobre a tal médium e seus supostos poderes sobrenaturais.
— Então essa mulher pode te ajudar mesmo a falar com ele? — perguntou ela.
— Sei lá. Acho que sim. Se o Henrique falou eu acredito. Preciso que você vá lá comigo conversar com ela pra eu descobrir.
Minha amiga ficou um pouco desconfiada, mas compreendeu meu lado e aceitou ir comigo até a mulher para vermos se tratava-se realmente de uma médium que falava com os mortos.
• • •
Saímos da casa da Jéssica por volta das sete e meia. Ela ligou para o trabalho e disse que demoraria para ir à loja, já que precisava ajudar uma amiga.
Eu iria com ela, mas sem garantia de que encontraria a médium. O bairro Fernando de Noronha estava no limite do meu alcance de locomoção, mas caso eu não pudesse, Jéssica falaria com ela por mim.
A chuva fina retornou e minha amiga saiu com um guarda-chuva rumo ao encontro da suposta médium.
Não andamos por muito tempo e, por sorte, a loja da médium foi fácil de achar. Nem foi necessário perguntar a alguém ou procurar por outras ruas para achar, já que ela era muito chamativa. Ficava em uma rua simples de paralelepípedos onde tinham algumas outras lojas e casas, mas ela destacava-se do resto por ser pintada de roxo bem vivo com detalhes em verde escuro. Sobre a porta dupla, que estava aberta, havia uma placa onde estava escrito em grandes letras cursivas: ENCANTO & DESENCANTO: LOJA DE PRODUTOS ESOTÉRICOS, PREVISÕES E AMARRAÇÕES.
Paramos em frente às portas e falei à Jéssica:
— Acho que é aqui.
— Com certeza é aqui — replicou ela.
Também foi sorte a loja ficar no meu limite de distância. Estava sentindo um incômodo na barriga, mas era tolerável.
Passamos pelas portas de madeira verde com vidro fosco e entramos na pequena loja pintada de amarelo e com prateleiras de ferro junto às paredes que estavam cheias de itens esotéricos. Incenso, livros sobre bruxaria e feitiços, pequenas estátuas de criaturas e figuras humanoides, amuletos, totens de madeira, dados, velas de todas as cores, colares, porcelanatos multicoloridos, pulseiras e anéis, pedras coloridas, etc. No fundo, havia uma mesa de madeira e uma mulher negra estava sentada em uma cadeira, concentrada na tela de seu celular. Atrás dela havia uma porta e na parede em cima dela uma plaquinha onde estava escrito: A MAGIA É REAL SE VOCÊ ACREDITAR.
— Oi, bom dia — disse Jéssica, deixando o guarda-chuva ao lado da porta perto do tapete cinza onde estava escrito "BEM-VINDO".
A mulher olhou para minha amiga e deixou o celular sobre a mesa. Mesa essa que estava repleta de coisas esotéricas também. Livros, amuletos, embalagens de velas, cartas de tarô, estátuas em miniatura de santos e homenzinhos em posição de meditação, pequenas esculturas em madeira de animais e, do lado esquerdo da mulher, junto à parede, um grande gato preto que estava dormindo e que parecia ser bem velho, já que seus pelos estavam desbotados e falhados na cabeça e no peito.
— Bom dia. Em quê eu posso ajudar você? — disse a mulher.
Quando nos aproximamos da mesa e pude ver de perto o rosto da mulher, fiquei encantada. Ela era incrivelmente linda. Tinha a pele lisa como seda e cor de chocolate, era magra, usava um vestido vermelho lindo com mangas longas e um decote em V que valorizava muito o busto dela. O colo dos seios estava ornado por alguns colares dourados e uma gargantilha prateada. Os cabelos eram pretos e cacheados, longos e volumosos e estavam para trás. As unhas estavam pintadas de azul-marinho e havia pulseiras douradas e prateadas em seus pulsos, além de um relógio e, em quase todos os dedos, anéis. Alguns com pedras multicoloridas que pareciam ser preciosas de verdade. Seu rosto era perfeito. Parecia uma escultura de chocolate. Os lábios carnudos pintados por um batom vermelho intenso e os olhos castanhos estavam enfeitados com sombra e delineador pretos que faziam o olhar dela parecer sombrio, misterioso e sensual ao mesmo tempo. Era uma mulher elegante e sua expressão era altiva. Lembrava um pouco uma cigana, mas tinha o porte, a beleza e a presença de uma rainha. Aquela com toda certeza é uma das mulheres mais belas que já vi. Talvez a mais bela mesmo.
— É que... — Jéssica iniciou a conversação e eu fiquei atrás dela, hipnotizada pela beleza da mulher e esperando minha amiga falar o que tínhamos combinado. — eu queria saber se você é... A médium que falam por aí?
A mulher não respondeu. Apenas ficou quieta e passou alguns segundos olhando a Jéssica de cima a baixo com uma estranha desconfiança. Mas, por fim, ela perguntou:
— Qual seu nome?
— É Jéssica.
A mulher de vermelho entrelaçou os dedos cheios de anéis e ficou em silêncio por mais alguns segundos até que ela disse:
— Você tem uma energia forte... — Ela coçou o queixo. — É intensa e muito vermelha. Muito carregada.
Minha amiga olhou para mim pelo canto do olho estranhando o papo da mulher e falou:
— Ah..., tá... É que... Uma amiga minha disse que você consegue falar com quem já morreu e ela queria entrar em contato com alguém que ela conhecia e já tá morto.
A mulher misteriosa levantou revelando seu corpo perfeito de modelo de catálogo de lingerie com as curvas delineadas pelo longo vestido vermelho. Ela colocou as mãos na cintura, olhou para Jéssica apertando as sobrancelhas como se sentisse algo estranho no ar e, por fim, perguntou:
— Tem alguém com você?
— Não.
— Tem sim... É um espírito... Muito diferente. Feminino e... Com uma energia muito forte. Sexual. É diferente dos espíritos que eu sinto normalmente. Ela é bem poderosa... Faz muito tempo que eu não sinto uma energia tão forte como essa — A mulher apontou na minha direção e depois para a Jéssica. — Eu também sinto uma energia muito poderosa entre vocês... Uma força que une vocês duas.
Eu olhei para minha amiga e ela estava estática. Aquela médium não era uma farsante. Ela sabia que eu estava ali.
Então fiz uma coisa impensada. Me materializei na frente dela.
— Oi. Meu nome é Samara — falei.
A linda mulher arregalou os olhos quando me viu surgir na frente dela.
— Que coisa impressionante — disse ela, espantada. — Você consegue ficar sólida... Como você faz isso?
— Eu penso em ficar sólida e aí eu fico — expliquei.
— Incrível... Eu nunca vi uma coisa dessas, e olha que eu já vi muita coisa estranha por aí.
Jéssica lançou-me um olhar repreendedor e perguntou:
— Por que você apareceu pra ela?
— Ela já sabia que eu tava aqui.
Olhei para a cigana negra e notei que seu olhar deixara de ser de espanto e tornara-se de curiosidade.
— Não precisam se preocupar — disse a mulher —, eu não vou contar nada pra ninguém. Pode ficar tranquila. Mas a gente vai precisar de mais privacidade.
Mas espere. Você que está lendo isto, por favor, preste atenção. Preciso que você acredite no que vou relatar a seguir. Eu juro que é verdade.
A médium fez um gesto em direção às portas da loja como se ordenasse que elas se fechassem e foi exatamente isso que aconteceu. As portas da loja simplesmente se fecharam como se uma força invisível as tivesse movido.
Quando vimos aquilo, Jéssica e eu nos entreolhamos incrédulas. Nós olhamos para a mulher de vermelho boquiabertas e Jéssica perguntou:
— Como foi que você fez isso?
A médium sorriu e respondeu apenas:
— Magia.
A mulher misteriosa fez novamente o mesmo gesto com as mãos em direção a duas cadeiras de madeira que estavam encostadas na parede ao nosso lado e elas magicamente foram arrastadas até nós por aquela "força invisível".
— Por favor, podem sentar.
Jéssica e eu nos entreolhamos novamente duas vezes mais incrédulas e duas vezes mais boquiabertas.
— Como você faz isso? — a única coisa que consegui falar naquele momento.
A mulher de vermelho pediu:
— Vamo lá, sentem aí. Eu quero conversar com vocês duas — Ela sentou em sua cadeira e começou a pegar algumas coisas sobre a mesa e deixá-las nas laterais como se abrisse espaço para nossa conversa. — É a primeira vez que eu encontro na minha frente um fantasma que se materializa desse jeito e uma vampira no mesmo dia.
Jéssica e eu, sem outra escolha, sentamos nas cadeiras e minha amiga perguntou:
— Como você sabe que eu sou vampira?
— Eu sinto a sua aura vermelha com sede de sangue.
A mulher me fitou com seus olhos penetrantes.
— Vocês duas são um bom exemplo das coisas fora do normal que tem nessa cidade.
— Como assim? — questionei.
— Esse lugar é um tipo de polo magnético da Terra que produz uma energia mágica diferente de tudo que eu já vi. Não é à toa que essa cidade é cheia de coisas esquisitas. E é por isso que eu me mudei pra aqui. Até a minha magia ficou mais forte. Mas enfim, o que vocês querem de mim?
Jéssica e eu nos entreolhamos uma terceira vez e eu disse:
— Eu quero encontrar um cara que morreu. Eu preciso falar com ele.
A mulher de vermelho novamente entrelaçou os dedos.
— Você acha que é simples assim? Eu não falo com os mortos, eles que falam comigo, mas eu sei do que você precisa. Fica aí que eu já volto.
A mulher levantou e saiu pela porta de trás da loja.
Jéssica e eu ficamos quietas. A médium era paranormal mesmo e tinha até poderes mágicos. Quem diria.
— Você viu o que ela fez? — perguntou minha amiga.
— Então ela é médium de verdade — respondi.
— Não, ela mexeu as cadeiras com a força do pensamento — Jéssica ainda estava descrente. — Ela é uma bruxa. Tipo, uma feiticeira.
— Você fala com uma fantasma e acha estranho uma mulher que faz magia?
Jéssica era minha amiga há anos e estava impressionada com uma mulher que fechava portas e movia cadeiras com o pensamento.
Nesse momento, o gato preto que estava dormindo sobre a mesa levantou-se e se espreguiçou. Ele miou e começou a me encarar com seus grandes olhos verdes.
— Agora só falta esse gato falar — disse Jéssica, olhando para mim realmente preocupada com a possibilidade do felino bater um papo conosco.
Felizmente ele não disse nada e apenas começou a se lamber. A porta dos fundos abriu-se e a misteriosa mulher de vermelho surgiu segurando um livro.
— Pronto — disse ela, deixando o livro sobre a mesa e sentando em sua cadeira. — Ele tava esperando vocês.
Ela empurrou o livro na nossa direção. Era grande e grosso, aparentando ser muito antigo. Parecia um daqueles livros de feitiços que aparecem em filmes de fantasia ou do Harry Potter. A capa marrom era muito velha e gasta. As páginas eram todas amareladas.
A médium nos disse:
— Ontem à noite eu tive um sonho premonitório. Duas moças especiais iam aparecer aqui pra mim. E aqui tão vocês. Eu sabia que era coisa desse livro. Ele tá no destino de vocês duas.
— Que livro é esse? — indagou Jéssica, pegando o livrão.
— É um livro encantado, muito antigo e poderoso. Ele tá cheio de magia. Aí tem um monte de feitiços, maldições e encantamentos. Ele fica viajando pelo mundo procurando pessoas aptas em magia pra usar elas... Nesses últimos anos o safado ficou passando de mão em mão pelo Brasil até chegar em mim faz uns dois meses. Ele tentou me usar e dominar a minha mente, mas eu fui mais forte e resisti. Inclusive, ele acabou de chegar do Nordeste, onde tem um cara com muito poder mágico por lá.
Livro mágico? Em outras circunstâncias eu não acreditaria, mas, apesar daquilo parecer loucura, a mulher realmente tinha poderes, então aquela história aparentava ser verídica.
— E o que a gente faz com ele? — perguntei.
Jéssica abriu o livro, folheou rapidamente as páginas amareladas e enrugadas, mas não havia nada nelas.
— Não tem nada escrito — comentou minha amiga. — Tá tudo em branco.
— As letras só vão aparecer quando você precisar — disse a mulher. — ou quando ele quiser mostrar alguma coisa.
Eu estava confusa. Meu objetivo era saber do Ricardo e estava recebendo um livro mágico. Eu falei à mulher:
— Mas a gente não é mágica. Você disse que ele fica atrás de quem faz magia, só que a gente não mexe com isso — O gato miou outra vez. — Eu só vim aqui pra saber se você pode encontrar um cara que morreu.
— Mas o livro indicou vocês duas no meu sonho. Ele quer ir com vocês. Eu sinto que ele é a forma de encontrar esse morto que você tá procurando.
— E a gente faz o quê com ele?
— É só pedir que ele vai atender e tentar solucionar seu problema. Você vai encontrar o que precisa nele.
Olhei para Jéssica e ela estava tão perdida quanto eu.
— E você, vampira, quer o quê de mim? — perguntou a mulher, pegando uma caneta que estava sobre a mesa. — Quer um mapa astral?
Jéssica fechou o livrão antigo.
— Não, não quero nada.
— Tem certeza? Eu posso ver o seu futuro se você quiser.
Minha amiga levantou uma sobrancelha, aparentando certa curiosidade.
— Hum... Então fala... O que vai acontecer em 2018. O que vai acontecer pelo mundo?
— É, eu já dei uma olhada no ano que vem... Vai ser um ano marcado principalmente pela política.
— Só isso?
— É. Se quiser mais tem que pagar. Não faço isso de graça.
— Mas pra ela você fez — Jéssica apontou para mim.
— Só que ela foi um caso diferente. Eu tava só esperando ela pra me livrar do livro... Bom, já que é só isso mesmo. Preciso que vocês se retirem da minha loja e levem o livro pra longe de mim. Já falei o que vocês precisavam saber — A mulher ficou de pé e fez um gesto de "xô para lá". — Agora vão embora com ele.
Levantamos também e Jéssica perguntou:
— E quando a gente traz o livro de volta?
— Ah, não. Depois que vocês usarem, deixa ele no lixo. É pra lá que ele tem que ir. Não é pra ficar com ele de jeito nenhum. O livro pode manipular a cabeça de vocês se vocês deixarem. Tomem cuidado. É sério. Só joga no lixo.
— Tá. Se ele é amaldiçoado, então eu vou queimar depois — propôs Jéssica.
— Não adianta. Ele não pega fogo, nem molha ou rasga. Ele tá cheio de magias incríveis que impedem ele de ser destruído. A única coisa que dá pra fazer é passar pra frente. Melhor vocês jogarem no lixo mesmo. Alguém vai encontrar depois e ele vai seguir o caminho dele.
Jéssica e eu nos entreolhamos uma última vez e silenciosamente concordamos em levar o livro, mas minha amiga ainda perguntou à mulher:
— Você é médium e... Bruxa também, alguma coisa assim?
A mulher deu de ombros.
— Pode me chamar de bruxa se quiser, é um título que eu gosto — Ela fez um gesto na direção das portas da loja e elas abriram da mesma forma que fecharam. — E por favor, vão, mas isso tudo que eu falei é segredo. Ninguém pode saber. O mesmo vale pro livro. É pra ficar de boca fechada.
Continua no próximo capítulo...
*Publicado por EscritorAnônimo no site climaxcontoseroticos.com em 25/05/25. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.