Mentes Misteriosas - O Triângulo

  • Temas: Sexo, Perversão, Traição, Corno, Casamento, Violência
  • Publicado em: 10/06/24
  • Leituras: 1174
  • Autoria: Bayoux
  • ver comentários

Minha história é sobre um triângulo amoroso clássico: tem um casal perfeito, um púria sem escrúpulos e uma morte violenta no final.


Não me orgulho dos fatos que vou narrar-lhes, mas por ser eu mesmo um dos envolvidos, tentarei ser o mais imparcial possível e deixar os julgamentos morais para os digníssimos senhores e senhoras.


Nos conhecemos ainda jovens, no curso de jornalismo, possuíamos os três a mesma idade, curiosamente nascidos com poucos dias de intervalo, mas que astrologicamente faziam muita diferença: ele era de sagitário, eu de Capricórnio e ela de aquário.


Não que eu siga as previsões ou acredite em mapas astrais, mas resulta-me curioso entender como podíamos ter personalidades tão diferentes mesmo possuindo histórias pregressas tão semelhantes.


Ele era um dândi. Bonito, galante, atlético, possuía uma voz grave, sedutora e sensual, emoldurada por um sorriso branco, aberto e honesto. Mas também era egocêntrico, individualista, e burro como uma porta. Filho de diplomatas, fora acostumado a uma boa vida e conseguira acesso à faculdade por canais alternativos, o que é um eufemismo para dizer que foi na pistolada mesmo. Típico sagitariano.


Ela era meio avoada, mas muito inteligente e criativa como poucos. Dizer que era bonita não traduz com exatidão sua aparência. Seu corpo esguio e de curvas sensuais tampouco representa com fidedignidade a impressão que causava. Ela era magnética, isso sim a definiria. Não havia lugar onde sua presença passasse despercebida e geralmente vinha acompanhada por uma multidão de fãs de ambos sexos. Típica aquariana.


E também tínhamos a mim. Se bem não fosse feio, eu tampouco era bonito e, para falar a verdade, isso pouco me incomodava. Vivia entretido comigo mesmo e os meus pensamentos, construíra um mundo para mim e ali vivia, sem me importar com o resto. Talvez fosse o mais inteligente de todos, ou talvez apenas gostasse de me ver assim - talvez, eu fosse mais egocêntrico que ele, ou mais magnético que ela, deixo aos senhores e senhoras as devidas conclusões, como propus ao iniciar minha história.


Nos conhecemos lá pelo meio do curso, ou melhor, coincidimos os três nesta época, porque eles já namoravam e, apesar de levarmos diversas matérias em comum, eu nunca havia tido maior contato com o casalzinho. Fizemos um trabalho de grupo naquele semestre que nos resultou extraordinariamente bem: ela tinha as idéias, eu fazia toda a pesquisa e ele… Bem, ela passava a limpo e fazia a apresentação - mesmo sem entender patavinas do que falava.


Nesta ocasião, algo mais aconteceu: me apaixonei por ela. Se bem eu tivesse um entendimento acima da média sobre as reações químicas da paixão e a idiotice que na verdade é aquilo que se convencionou chamar de amor, foi inevitável ceder aos encantos dela. Sua voz aveludada e suas ideias nada comuns entravam por meus ouvidos e instalavam-se entre meus neurônios estalando em um milhão de micro descargas elétricas.


Dona de meus pensamentos, ela comandava até meu subconsciente, habitando meus sonhos todas as noites e me fazendo acordar pelas manhãs ereto e molhado entre as pernas. Talvez ela nem se desse conta disso, entre tantas pessoas a rodeá-la buscando um breve instante de sua atenção eu era somente mais um, talvez o mais ignóbil entre todos.


Para não fazer papel de idiota, algo que me causava ojeriza e que deixava reservado ao seu namorado galã, me contive e sofri calado até o final do curso, quando nos separamos e tratei de esquecê-la para sempre.


Fundei o meu próximo jornaleco digital, algo muito específico sobre política e economia, reservado a assinantes do empresariado e, muito embora não fosse um êxito de público e eu tivesse que fazer de tudo ali, pagava minhas contas e me permitia uma vida modesta.


No oposto do espectro profissional onde eu me encontrava, eles agora apresentavam o jornal mais famoso do país, o casal vinte da televisão brasileira.


Ele já trazia alguns cabelos grisalhos, mas sou obrigado a reconhecer que estava mais bonito ainda - os anos lhe foram gratos. Ela se via tão linda e jovial como antes, seu magnetismo havia transcendido sua presença física e capturava a atenção do público através das telas.


Eram um fenômeno de audiência, muito embora isso fosse injusto em boa medida, pois o jornal era manipulador, idiotizante e acrítico. Ademais, eu sabia que ele ainda devia ser burro feito uma porta.


Contudo, confesso que assistia ao horrível jornal apresentado por eles todas as noites, só para desfrutar do momento admirando-a e me masturbando na solidão da sala de minha quitinete. Sim, eu nunca havia me casado, tive lá alguns romances breves e desimportantes, mas o fato é que nunca aceitaria a outra mulher que fosse menos do que ela - e agora dava-me conta disso contundentemente, ao voltar a ter os mesmos sonhos molhados da juventude.


Era tudo tão real, vivido, claro!


Ela nua se entregava a mim para que a possuísse passando minhas mãos cabeludas e de dedos curtos por todo o seu corpo de pele macia e cheirando a lavanda.


Enquanto beijava seus seios rígidos de mamilos grandes e escuros, ela confessava sempre haver me desejado tal como estávamos ali, na iminência de um coito avassalador, enquanto ele permanecia sentado e cabisbaixo num canto do quarto, as mãos segurando suas têmporas e chorando, sendo obrigado por ela a presenciar como eu comeria cada pedacinho de sua mulher perfeita.


Pelas manhãs, invariavelmente, acordava molhado e sentindo-me o maior dos idiotas por não conseguir afastar estes sonhos de minha mente. Para piorar, via nos programas de fofoca dos ricos e famosos, durante meu café e pão com manteiga matinal, os flashes da vida espetacular do casal vinte, onde apareciam em carros conversíveis dirigindo por Miami ou vestidos de gala em algum jantar beneficente milionário.


Mergulhava então na jornada extenuante de análises políticas e prognósticos econômicos durante o dia inteiro, só para esquecer minha crescente obsessão por ela. Eu sequer almoçava direito, mas, quando chegava em casa, na companhia da garrafa de uísque e do maço de cigarros sem filtro, esperava impacientemente pelo telejornal, só para desfrutar daquele breve momento de prazer solitário vendo sua imagem tão compenetrada na telinha.


Eu havia me tornado mais uma presa de seu magnetismo absurdo.


Numa dessas noites, estava tão hipnotizado que não consegui me satisfazer só olhando ela apresentar o noticiário. Fiquei fuçando na internet em busca de fotos suas, mas infelizmente ela quase sempre aparecia acompanhada pelo burro-mas-bonitinho, o que estragava tudo.


Foi então que me deparei com uma mina de ouro: fotografias proibidas dela, nua como veio ao mundo, vazadas de seu celular. Eu não sou besta, é óbvio que nunca houve vazamento algum e que as tais fotos foram plantadas na mídia para promovê-la, um típico golpe publicitário.


Não obstante, a razão das fotos existirem pouco me importava: ela nua era tão maravilhosa, seu corpo me soava tão sensual e provocante, seu sexo depilado parecia tão convidativo e aconchegante, que terminei a garrafa inteira, fumei um maço e gozei três vezes segidas.


Era meu fim, eu estava louco por ela, não podia continuar assim e faria qualquer coisa para que aquela mulher fosse minha uma vez ao menos na vida.


Em meio ao delírio da embriaguez embalada por minha obsessão, descobri seu e-mail institucional e lhe enviei uma mensagem idiota da qual muito provavelmente me arrependeria depois, mas não consegui evitar e agi de impulso, algo totalmente fora do normal para mim.


Sem saber bem o que diria, apenas cumprimentei perguntando se ela lembrava de mim e elogiando seu trabalho. Idiota, mil vezes idiota, eu parecia mais um fã babaca qualquer!


Passei uma semana sofrendo de arrependimento, muito embora fosse óbvio que ela nunca chegaria a ler aquilo: essa gente possui assistentes que filtram tudo.


Apesar disso, confesso que checava minha caixa de entrada compulsivamente, na expectativa de receber alguma resposta dela. Porra, ela poderia ao menos dizer um “Olá, tudo bem? Eu me lembro de você, pessoa obscura do passado!”


Ou ainda, mais provavelmente, um de seus assistentes poderia responder em seu nome, agradecendo pelo carinho e sugerindo que eu a seguisse nas redes sociais.


Bem, ao traçar esta linha de raciocínio, os senhores e senhoras são capazes de imaginar o quão surpreso eu fiquei ao receber o tal e-mail de resposta quase um mês depois.


Foi escrito num tom informal e mencionava alguns detalhes de quando estudávamos juntos, logo, havia sido escrito por ela mesma e, para meu deleite, a mulher lembrava-se até muito bem de mim, ao chamar-me de “colega capricorniano querido.”


E não era apenas isso. Ela também mencionava meu jornal virtual sobre economia e política, dizendo ser assinante há anos e me felicitando pela consistência e qualidade do meu trabalho.


Ao final, dizia para eu não desaparecer de novo e fornecia seu telefone pessoal, caso eu desejasse entrar em contato. Céus, ela era minha fã, aquela deusa se lembrava de mim e gostava do que eu fazia! Devo ter me masturbado por toda a semana seguinte relendo suas palavras e calculando o que diria quando a chamasse.


Foi uma ligação breve, onde eu pensava em agradecer por suas palavras e me colocar à sua disposição se tivesse alguma dúvida sobre os temas que eu tratava. Contudo, sua voz aveludada soava entusiasmada do outro lado, estranhamente entusiasmada -, eu diria até um pouco efusiva demais por haver lhe chamado.


Quis saber coisas pessoais sobre mim, se eu fazia algo mais além do jornal, perguntas sobre mulher, ou filhos, se eu frequentava algum lugar preferido ou se tinha algum hobby. Não, era meio constrangedor, mas eu não possuía nada disso.


Vendo meu desconforto, ela riu e pediu desculpas, mencionou que estas eram apenas perguntas de praxe para puxar assunto, mas, considerando que já nos conhecíamos há tanto tempo, isso não vinha ao caso.


Daí seguiu falando sobre seu trabalho, coisas normais, que desejava melhorar o conteúdo daquela porcaria que apresentava na televisão fingindo ser um jornal e que estava justamente procurando alguém como eu, inteligente e que sabia fazer de tudo, para ajudá-la na proposta.


Assumo que não me lembro bem como chegamos a este assunto. A voz dela entrava suavemente em meus ouvidos e atingia diretamente meu hipotálamo, provocando um efeito quase hipnótico. Eu nem ouvia mais suas palavras, só a doce música de sua voz sensual pedindo que lhe fizesse amor até provocar seu gozo profundo, intenso e incessante.


Nem percebi, mas eu havia começado a me masturbar em meio a este pseudo-transe.


Fui arrancado de meu devaneio e trazido de volta ao planeta terra quando ela me convidou para visitá-la na casa deles já na tarde seguinte para trocarmos algumas ideias. Atônito com a ideia de vê-la em carne e osso novamente depois de tantos anos - e de tantas punhetas dedicadas em sua homenagem durante este longo intervalo - eu aceitei, mas não sem parecer reticente.


Quando desligamos a chamada, eu me dei conta de que minha aparência somente piorara ao longo dos anos. A calvície precoce avançara até o meio da cabeça, a barba se tornara grisalha e o corpo, bem, haviam diversos reflexos do alcoolismo, do tabagismo e do sedentarismo aos quais me dedicara com afinco absoluto - e minha barriga saliente e peluda era a prova flácida disso.


Nem consegui trabalhar com a concentração necessária, mas publiquei umas matérias requentadas que havia escrito no passado e considerado não serem boas o suficiente, as quais ressuscitei da gaveta.


Passei na quitinete para tomar um banho e vestir algo mais apropriado para encontrá-la. Dei-me conta de que meu terno puído e a camisa branca amarelada cheiravam a naftalina por não haverem saído do armário nos últimos cinco anos.


Sim, senhoras e senhores, eu devia ter desconfiado, mas tudo o que eu pensava era em poder estar ao seu lado novamente, escutar sua voz magnética e sentir mais uma vez o seu perfume. Na data marcada eu fui até onde o casal habitava. Como era de se esperar, encontrei-a linda e seu magnetismo agora fora ainda mais ampliado.


Era impossível a qualquer pessoa não parar embasbacado ao vê-la movendo-se por entre as diversas salas finamente decoradas da mansão em que vivia com o idiota-boneco-Ken quarentão em que seu marido se transformara. Entre quadros modernos, esculturas de alabastro e tapetes orientais, ela parecia estar em seu habitat natural, caminhando absoluta com roupas leves e evanescentes.


Céus, como eu desejava comer aquela mulher, chegava a doer dentro de mim como se estivessem triturando meu pênis com um mini rolo compressor de cinquenta quilos forrado de agulhas em brasa! Conseguiria eu me conter, ou terminaria finalmente avançando sobre ela e metendo os cornos no idiota do seu marido?


Ele havia saído e, enquanto conversávamos sobre suas idéias para o jornal, os seios dela se avolumavam emoldurando o decote profundo de sua blusa e eu exercia um controle enorme para não começar a me masturbar involuntariamente.


Sentados num sofá branco imenso e macio que ameaçava nos engolir a cada momento, fiz um esforço para acompanhar sua narrativa e tentar contribuir com algumas dicas para seu projeto de melhora do conteúdo do jornal. Na verdade, o programa era tão ruim que qualquer coisa que ela quisesse fazer já seria uma melhora, mas busquei levar aquilo à sério para impressioná-la.


Foi aí quando ela se entusiasmou e começou a falar toda animada, com a mão sobre minha coxa. Minha perna queimava com seu toque, seu perfume impregnava meu olfato, sua voz voltava a me hipnotizar e eu não aguentaria mais nem um minuto sem beijar aqueles lábios carnudos e voluptuosos.


Eu iria explodir de desejo sobre ela, mancharia suas roupas evanescentes e seu sofá feito de nuvens, causando horror nos quadros respingados e nas esculturas negras contorcidas.


Sem saber o que fazer para seguir me controlando e evitar um desastre de escala grotesca, apelei e fiz a última coisa que um homem apaixonado faria nestas condições: perguntei sobre seu marido.


Ela então prendeu a respiração e o silêncio deixado pela ausência de sua voz era completamente insuportável. Pude notar uma pequena lágrima se formando no canto de um dos seus lindos olhos oblíquos, agora marejados.


Havia algo podre na fantasia perfeita do casal vinte, pude perceber. Sua mão apertou minha coxa numa tentativa inócua de conter sua explosão de sentimentos. Sensível à agudeza deste momento que eu inadvertidamente provocara, pousei minha minha mão sobre seu ombro em sinal de apoio.


Esse foi o gatilho que fez jorrar uma torrente de revelações emotivas que guardava trancados dentro de si.


Chorando apoiada em meu ombro, ela me confidenciou que já no primeiro ano de casamento começaram as traições de parte dele. Era um inferno, não importava cor, idade, condição social, ele era insaciável em seu apetite por mulheres e, até mesmo no jornal, seu lugar de trabalho e sustento, já havia comido todas.


Obviamente, ela se sentia desmoralizada, uma piada digna de pena, tendo que aguentar calada as referências jocosas que seus colegas faziam em relação aos chifres que ele lhe impusera.


Pior ainda, entre eles há muito não havia sexo. O que sim havia, me sussurrou entre soluços, era uma situação degradante de servidão. Ele a usava quando, onde e quando queria, com violência e sem piedade, não havia amor, somente dominação e o sêmen que ele espalhava em seu corpo, dentro de sua carne, em sua garganta.


Ele não se importava com seus sentimentos, era um monstro, a amarrava, obrigava-a a assistir as atrocidades que fazia com outras mulheres para depois abusar dela também.


Estarrecido, ouvi detalhes sórdidos de como ele cobrava pequenas fortunas de seus amigos para que pudessem participar destas cessões de tormento, deixando entre gargalhadas que a fodessem sem escrúpulos onde desejassem.


Não importava se pela boca, pelo ânus ou pelo sexo, ou mesmo se por todas estas partes ao mesmo tempo, ele a vendia, a amarrava e subjugava - e ela havia de receber submissa todos aqueles homens por todas as suas cavidades.


Compreensivo a apiedado, eu lhe disse que uma mulher como ela não precisaria jamais se submeter àquilo, bastava que pedisse o divórcio e reconstruísse sua vida.


Contudo, ainda aos prantos, ela me contou que estava atada a ele pelo resto da vida. A emissora os fizera assinar um contrato conjunto, onde ou trabalhavam os dois no jornal, ou pagariam uma multa milionária caso um deles saísse.


A casa, as aplicações e todos os bens estavam em nome dele e por ele eram controlados. Por conta do contrato matrimonial com total separação de bens que ele exigira quando se casaram, ela na verdade não possuía nada e se via agora nesta situação sem retorno: era serva e escrava daquele pulha sem nem poder sonhar com um dia conseguir se libertar de seu jugo!


Fui tomado de espanto. O casal vinte na verdade era uma grande farsa, quem os visse durante o noticiário ou nas fotos das redes sociais jamais imaginaria toda a podridão a esconder-se por entre as paredes daquela mansão e abaixo de seus tapetes orientais.


Mais que tudo, tive ódio daquele monstro escondido baixo sua aparência bonita, porte atlético e sorriso branco, mas desonesto. Como pude ser enganado assim, achando ser ele um completo idiota desprovido de inteligência, enquanto ele foi capaz de aprisionar naquela gaiola a ave mais linda do mundo?


Também fui tomado por vergonha. Sim, eu me sentia o pior dos homens por masturbar-me compulsivamente pensando nela, desejando possuí-la e subjugá-la tal qual aquele monstro fazia, ansiando conspurcar sua docilidade e beleza com meu sexo inchado e grosso, sonhando em fazê-la receber meu sêmem em sua boca carnuda e sobre os seios perfeitos, afoito por desfrutar de seu sexo e deflorar seu pequeno ânus.


Sim, na verdade, eu não era em nada melhor que ele.


Fui arrastado desde minha culpa para retornar àquele sofá que me engolia e àquela mulher que enxugava suas lágrimas deitada em meu colo. Agora, ela proferia palavras inesperadas que jamais sonhara ouvi-la pronunciar. Emocionada e frágil, ela dizia que se arrependia de tudo.


Se ela pudesse voltar no tempo, nunca se envolveria com ele na faculdade e teria prestado atenção em homens mais inteligentes e honestos, tal como eu. Se ao menos eu não tivesse me afastado naquela ocasião, abandonando-a à mercê de seu carrasco enganoso, tudo poderia ter sido diferente!


Sim, ela sempre soube que eu a amava, que a queria e desejava, sabia que eu seria capaz de lhe dar o carinho e a atenção pelos quais ela ansiava. Não importava o dinheiro, o sucesso e a beleza, ela trocaria tudo isso por uma vida de companheirismo e amor sincero ao meu lado, sendo adorada como a deusa que sabia ser por um homem comum e humilde como eu sabia ser.


Estas palavras calavam fundo em minha alma e feriam como lâminas o meu ser.


Saber que a vida poderia haver sido bela e plena, tendo aquela mulher talentosa e espetacular por companhia, mas que isto se havia perdido por pura covardia de minha parte, era como haver sido condenado ao mesmo inferno onde ela há tantos anos purgava suas penas.


Neste momento, confesso que chorei. Sim, eu chorei como uma criança desiludida na frente do brinquedo que mais desejava, mas que nunca poderia obter.


Vendo minha compaixão, ela enlaçou meu pescoço se erguendo para aproximar-se ao meu rosto. Por breves segundos, nossos olhos se encontraram em profunda cumplicidade e compreensão. Eu sentia sua respiração ofegante em minha face e podia até ouvir os latidos acelerados de seu coração.


Nos aproximamos lentamente e nos envolvemos num beijo sem mais retorno, foi como firmar um acordo, seríamos um do outro, viveríamos este amor proibido e, principalmente, selaríamos as ânsias carnais que nos foram negadas pelo estúpido boneco Ken e todo o universo pervertido que ele havia criado.


Enquanto suas mãos se entrelaçavam às minhas, num sussurro, sua voz inebriante soava em meus ouvidos para nos abraçarmos carnalmente, fazendo o amor que nos foi negado no passado, gozando e trocando nossos fluidos corpóreos para celebrar nosso reencontro.


Era tudo mais que perfeito, eu estava em êxtase enquanto a despia e apalpava o seu corpo perfumado, ela sorria lânguida e me permitia explorar seu sexo com minha língua ávida por provar o seu sabor, me retinha a cabeça entre suas poderosas coxas apertando minha nuca e respirando profundamente enquanto eu me esforçava para livrar-me de minhas roupas e preenchê-la com todo o calor do meu membro entumecido.


E foi exatamente quando ela estava recostada no sofá e eu agachado de quatro com as calças na altura dos joelhos, a bunda branca levantada para o alto e a cabeça enfiada entre suas pernas, que pude ouvir atrás de mim aquela voz grave e máscula tão conhecida do telejornal de todas as noites, dizendo: “Mas que porra é essa? O que vocês estão fazendo? Amor, quem é esse cara?”


Tomei um susto que quase me fez ter um ataque cardíaco, tentei saltar dali e me recompor para encarar meu oponente, mas o sofá ultra macio absorvia meus movimentos e eu não conseguia descolar a cara daqueles peitos grandes e suaves. Após algum tempo bufando sobre ela pelo esforço das tentativas de sair dali, terminamos rolando e caindo ao chão.


No giro da queda, eu agora estava por baixo e ela caiu encaixando o rosto no meu queixo, a coitada deve ter quebrado todos os dentes da frente, tinha a boca inchada e as gengivas lançando jorros de sangue sobre o tapete importado caríssimo deles.


Quando por fim logramos nos desvencilhar e colocar-nos em pé, meu pau ainda estava ereto e apontando para ele, enquanto ela tentava se desenroscar da porra das roupas evanescentes e cobrir suas vergonhas expostas.


Toda a coragem e indignação que antes me instigavam a enfrentar as condições sub-humanas em que ele mantinha a minha deusa se esfumaram e transformaram-se em pânico enquanto eu tapava o pênis teso com as duas mãos e o via avançar em minha direção como um centauro desembestado.


Ele possuía meio metro a mais que eu e o dobro da minha largura, todo feito de músculos bem trabalhados na academia. Para me defender, eu só tinha uma pança de cerveja saliente e meia dúzia de aulas de judô que fiz aos onze anos de idade para me defender.


Ao tentar retroceder correndo para evitar os primeiros golpes, minhas calças se enroscaram em meus tornozelos e terminei caído de costas de novo, desta vez batendo um dos braços numa mesinha de centro instável desenhada por algum arquiteto de grife, a qual tambêm tombou de lado lançando no ar uma das esculturas ininteligíveis tão bonitas de figuras se contorcendo confeccionadas em alabastro negro como o céu de lua nova sem estrelas.


Quis o destino, não sei se para minha sorte ou azar, que a tal escultura viesse a acertar a testa do meu desafeto, bem no meio de onde os cornos que eu quase lhe pus cresceriam se eu tivesse ao menos tido tempo suficiente de penetrar sua adorável e maltratada esposa antes do malfadado flagrante.


Ele então desequilibrou-se, foi tonteando de lado e tombou naquele maldito sofá branco como a neve, pintando tudo com gotas vermelhas que espirravam em profusão de sua cabeça. Parecia um dos quadros modernos expostos nas paredes.


Bem, esse foi o fatídico desenrolar dos fatos, desde quando nos conhecemos até o acidente que ceifou a vida dele, pois a escultura, por incrível que pareça, era realmente feita de alabastro, pesadíssima, e a equipe de cirurgia não logrou recompor a perda de massa encefálica ocasionada pelo rombo e o afundamento craniano involuntariamente provocados por mim.


Por último, senhores e senhoras membros do júri, peço levarem em consideração que, nestes últimos dezoito meses em que estive preso aguardando o julgamento, minha deusa teve a oportunidade de recompor todos os seus dentes, recebeu o seguro de vida milionário do falecido, herdou todo os bens do espólio por ele deixado e ainda logrou um contrato pelo dobro do valor para continuar apresentando o telejornal sozinha.


Os programas de fofoca dos ricos e famosos lucraram horrores com toda essa história, inventando está versão falaciosa dos acontecimentos onde alegam que eu, um fã obsesionado, invadi sua casa carecendo de juízo e tentei manter relações sexuais espúrias com ela à força, tendo ainda assassinado friamente seu pobre e maravilhoso marido, a quem todos amavam receber em seus lares todas as noites para apreeentar-lhes as últimas notícias do Brasil e do mundo.


Talvez vocês se perguntem, senhores e senhoras, porque ela não quis vir até aqui para corroborar minha versão dos fatos.


Ora, basta ver qualquer programa um dos que mencionei: ela deseja afastar-se de toda esta tumultuada história e seguir tocando sua vida adiante, por isso é que anda sendo fotografada junto a jovens bonitos, atléticos e de sorriso muito branco, parecendo contar com a metade de sua idade, com os quais frequenta os clubes e boates da moda e os jantares beneficentes refinados.


Peço também que desconsiderem as investigações mal intencionadas, que tentam inutilmente atribuir alguma culpa a ela, insinuando que ninguém trai o marido em casa sabendo que ele apenas saiu para sua corrida rotineira e que voltará para casa uma hora depois.


Se ela não está aqui agora, é tão somente por absoluta falta de tempo e pelo trauma que recordar daqueles anos sombrios de abuso e submissão lhe causa.


Quanto a mim, senhores e senhoras do júri, eu só espero contar com vossa compreensão para enfim sair livre, retomar minha vida e nosso romance interrompido desde que éramos estudantes.


Nota: A Série “Mentes Misteriosas” é uma coleção de histórias cortantes que escrevi faz algum tempo com o propósito de explorar a mente humana e seus desvios de entendimento. Novamente, não são contos fáceis e provavelmente desagradarão a alguns, por isso, compreendo se este for o seu caso. Mas, se eventualmente você gostar, recomendo reforçar a dose diária dos remedinhos, porque não está funcionando.

*Publicado por Bayoux no site climaxcontoseroticos.com em 10/06/24. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.


Comentários: