Hora Marcada - A Estréia

  • Temas: Sexo, Violência, Perversão, Anal, Oral, Novinha, Prostituta, Abuso
  • Publicado em: 19/08/24
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  • Autoria: Bayoux
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Antes de sair, verifiquei pela centésima vez minha aparência no espelho estreito e comprido preso ao costado da porta. Por incrível que pareça, a fome que passei durante os dias quase sem grana me deixaram bem como nunca antes.


Sem as tradicionais gordurinhas a mais nos quadris e com os ossos apontando no colo, minha silhueta agora destaca muito mais os seios, a tal ponto que até parecem mais volumosos.


Novamente, fico olhando a minissaia justíssima negra a contrastar com a pequena blusa de alça confeccionada em lantejoulas brancas e com os cabelos alisados a ferro e pintados de um vermelho intenso que me cobrem os ombros.


Questiono se o conjunto é apropriado para a ocasião. Como saber? Não, não há como ter certeza, melhor é apostar na sorte e sair logo. Ao girar a chave no trinco do pequeno quarto de pensão da Lapa, suspiro profundamente e hesito uma última vez. Estou realmente pronta? Terei coragem suficiente? De fato, não me restam alternativas?


Como resposta, ouço apenas um ronco profundo originado no estômago vazio desde ontem. Sim, preciso ganhar algum dinheiro, seja lá como for, ou termino morrendo à míngua.


Desço o estreito conjunto de escadas saltando os degraus de dois em dois, mal me equilibrando sobre os finíssimos saltos agulha, tudo rapidamente e sem pensar em mais nada, caso contrário terminarei por fraquejar, desistir e voltar atrás.


“A gente nunca sabe se está certa... Na vida, só o que podemos fazer é aceitar o que se nos apresenta, então, é melhor erguer o queixo e encarar de frente. Pensar muito só serve pra deixar a gente louca!” - repito a mim mesma como um mantra enquanto atravesso o lúgubre e minúsculo hall de entrada do velho casarão e ganho a rua manchada de faróis amarelados e molhada pela chuva de mais cedo.


Ao ouvir um assovio do primeiro homem que passa caminhando na calçada, adquiro certa segurança e sigo em frente. “Sim, a roupa é mesmo esta, está chamando a atenção. Vai dar tudo certo, vou conseguir!” - pondero comigo mesma.


No longo trajeto pelo quarteirão até a esquina, conto mais uns três desconhecidos que olham para trás à minha passagem, sendo que dois se atrevem a atirar alguns elogios baixos, sendo um deles um audível “gostosa”.


Respiro fundo e me posto encostada na esquina de pedra, à espera. Faz frio, retiro da pequena bolsa a garrafinha com vodca barata e trago a metade de uma só vez, sinto o estômago vazio se contorcendo, mas logo em seguida um calor aconchegante emana desde ali para o resto do meu corpo.


Os carros passam ao longo da avenida, alguns até diminuem sua marcha, mas nenhum para ante minha presença. À medida que a noite avança, vejo a parede à direita ir sendo ocupada aos poucos por um, dois, três, inúmeros travestis. Conversam entre si, fazem algazarra, riem alto e mexem com os motoristas.


O tempo passa, nada acontece. Dois dos travestis se aproximam e me interpelam, dizem que ali não é meu lugar, que o ponto já tem dono, que é melhor ir andando ou termino sofrendo um acidente.


Nervosa com a situação, me afasto sem discussão, caminho mais alguns passos pela avenida, não sei bem para onde ir, retiro da bolsinha novamente a vodca, dou longos goles até terminar seu conteúdo.


Beber de estômago vazio não foi uma boa ideia, sinto enjoo e percebo que o álcool subiu rápido demais. Estou confusa, meio grogue, caminho com dificuldade e sem destino sobre os saltos altos. Minha segurança se esvai, acho que não vou conseguir, penso em voltar à pensão e me matar, ou deixar-me morrer de fome.


Desapercebida, nem noto o luxuoso carro negro que segue em marcha lenta meus passos piscando os faróis. Estanco minha deambulação num susto apenas quando escuto as buzinas insistentes a chamar-me a atenção.


Nervosa e olhando ao redor, recolho os cabelos com uma das mãos ao aproximar-me da janela escura que se abre, onde me inclino para ver o motorista. O homem deve estar lá pela casa dos cinquenta e vem de terno e gravata, como quem saiu do trabalho mais tarde e resolveu dar uma escapada


É casado, traz aliança no dedo anular, e, a julgar pelo carro, tem dinheiro. Com um incômodo sotaque paulista, ele me aborda sem rodeios: “Oi meu bem. Três oncinhas me dizem que você quer dar uma volta comigo. Vamos?”


Não estando em condições de avaliar bem a situação, esqueço todas as dicas que havia coletado sobre o que perguntar e quais garantias exigir: simplesmente ajo por impulso.


Sinto um nervosismo acelerar o coração apertado ao puxar o trinco cromado e abrir a porta, acho que vou ter um ataque quando piso no estribo e suspendo o corpo na entrada, quase desmaio com as palpitações ao acomodar-me no assento ao lado do motorista, mas consigo realizar tais manobras sem transparecer o antagonismo que levo dentro do peito.


Agora, apenas torço para que tudo corra bem e para que seja rápido, tão breve que eu nem perceba, ou que nem possa me lembrar depois. Calado, o motorista segue devagar pela avenida, vira à esquerda e à direita, até estacionar ante um muro pichado num largo sem iluminação alguma.


Antes que ele apague as luzes do carro, vislumbro algo selvagem em seus olhos apertados, como um predador ante uma presa indefesa, ideia reforçada pela saliva começando a escorrer pelo canto de sua boca meio aberta e pelos caninos salientes e muito brancos a se revelar.


Sem mais palavras, ele se debruça sobre meu corpo com a barba mal feita arranhando-me o pescoço, já enfiando uma de suas mãos grossas pelo decote e agarrando-me com força um dos seios, a outra entre minhas coxas, puxando juntas a saia e a calcinha para baixo.


Enquanto permaneço estática no banco prendendo a respiração, ele avança sobre mim abrindo a calça, resfolegando sobre meu rosto, apalpando desajeitadamente cada parte de meu corpo que encontra pela frente.


Sou agora invadida por uma náusea insuportável e nenhum tesão, sinto apenas dor quando ele leva a mão por trás de meu joelho, suspende uma de minhas pernas para cima e começa a penetrar-me com um pênis muito grosso, enquanto retém meu rosto com a outra mão e enfia em minha boca uma língua pegajosa, com sabor à cigarros e cerveja.


Ante a selvageria, permaneço muda e inerte, tentando pensar em coisas felizes, mas em quê pensar numa hora destas? Percebendo minha inércia, o homem passa a sentir-se dono da situação.


Repentinamente, abre a janela ao lado e atira meu tronco para fora do carro. Literalmente enganchada na abertura, com a cabeça e os braços para fora, os peitos balançando no ar e os joelhos sobre o assento do lado de dentro, sinto uma dor lancinante com o estranho forçando aquele membro de tres polegadas de diâmetro em meu ânus.


Já ele, obcecado em sua diversão, nem percebe que agora eu grito, eu choro, eu soluço... Apenas segue estocando mais e mais, cada vez com mais força, cada vez mais profundo…


Quando se instala dentro de sua presa, o homem sussurra desde minhas costas: “Putinha safada, eu sei que você gosta de tomar neste traseiro, meu cacete está todo enfiado nele, é muito quentinho, é a bunda de vadia mais gostosa que eu já comi, eu adoro enrabar piranhas como você na rua…”


Aferrando as unhas vermelhas na lataria do carro, apenas consigo pensar que isso terminará logo, que preciso do dinheiro, que é melhor permanecer quieta e deixá-lo terminar de uma vez.


De fato, não tarda muito e o homem agarra minhas nádegas, sinto alguns espasmos e ele se estrebucha sobre mim, quase esmagando-me na janela do carro, deixando minhas entranhas alagadas com seu gozo espesso.


Sentido ânsias devido ao cheiro azedo de seu suor impregnado em meu corpo, consigo com algum esforço abrir a porta e escorregar para fora do carro, onde me ajoelho no piso e vomito copiosamente a vodca ingerida mais cedo.


Em minha mente, desfila a ideia de que foi bem pior do que jamais imaginei, mas que, felizmente, havia terminado - e que o dinheiro para pagar mais uma semana na pensão e alguns almoços já está garantido.


Contudo, quando me dou conta, o homem está arrancando com o carro em marcha ré. Antes de terminar a manobra e engatar a primeira marcha, tudo o que fez foi atirar pela janela numa poça ao chão as roupas que sobraram no carro, deixando o eco de uma gargalhada sonora na escuridão da noite.


Decepcionada, volto caminhando até a pensão com dificuldade devido ao meu reto ardendo em brasa. Ao chegar no minúsculo quarto, me olho no espelho enquanto me desfaço das roupas sujas, suspiro fundo e me encho de coragem.


“Em tudo na vida, a primeira vez é sempre a mais difícil”, penso comigo. Sei que amanhã será um novo dia, que tentarei novamente ganhar algum dinheiro - e que, com certeza, vou lembrar de cobrar adiantado!


Nota: A Série “Hora Marcada” é uma coleção de histórias incômodas que escrevi faz algum tempo com o propósito de expor alguns pensamentos sobre programas de profissionais do sexo. Outra vez, não são contos fáceis e provavelmente desagradarão a alguns, por isso, compreendo se este for o seu caso. Mas, se eventualmente você gostar assim como eu, desista dos remédios, desista do psicanalista, desista de ser normal - porque você nunca conseguirá.

*Publicado por Bayoux no site climaxcontoseroticos.com em 19/08/24. É estritamente proibida a cópia, raspagem ou qualquer forma de extração não autorizada de conteúdo deste site.


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